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SOBRE A COMPOSIÇÃO QUÍMICA E A QUALIDADE DO VINHO CABERNET FRANC1
LUIZ ANTENOR RIZZON2
, ALBERTO MIELE3
, JÚLIO MENEGUZZO4
e MAURO CELSO ZANUZ5
RESUMO - Foram avaliados os efeitos de três processos de vinificação sobre a composição química e
a qualidade do vinho Cabernet Franc, nas safras de 1987 a 1990. As vinificações foram realizadas em
escala industrial, pelos processos clássico, de termovinificação e de maceração carbônica. Avaliaramse teor alcoólico, acidez total, açúcares redutores, cinzas, extrato seco, compostos fenólicos e voláteis
e elementos minerais. Procedeu-se, também, à análise sensorial dos vinhos. Os resultados foram submetidos à análise de componentes principais (ACP) e à análise de variância, sendo que os três primeiros eixos explicaram 68,2% da variação total. Através da ACP, foi possível separar os vinhos de
maceração carbônica dos outros dois processos de vinificação. As variáveis que apresentaram maior
efeito na variação foram os álcoois superiores, os cátions e os compostos fenólicos. A avaliação sensorial mostrou que a maceração carbônica originou vinhos leves e com menor intensidade de cor, e a
termovinificação e a vinificação clássica originaram vinhos com mais corpo, melhor qualidade e equilíbrio gustativo e maior tipicidade varietal.
Termos para indexação: enologia, maceração carbônica, termovinificação.
EFFECT OF THREE PROCESSES OF VINIFICATION ON CHEMICAL COMPOSITION
AND QUALITY OF CABERNET FRANC WINE
ABSTRACT - The effects of three processes of vinification on chemical composition and quality of
Cabernet Franc wine were evaluated from the 1987 to the 1990 vintages. The vinifications were made
in an industrial scale by the following processes: conventional vinification, thermovinification and
carbonic maceration. The analyses performed were alcohol, total acidity, reducing sugar, ash, dry
extract, phenolic and volatile compounds and mineral elements. The quality was evaluated by sensory
analysis. Data were submitted to principal component analysis (PCA) and to analysis of variance,
where the three first axes explained 68.2% of the total variation. The PCA permitted to separate the
wines of carbonic maceration from the other two vinification processes. The variables presenting
important variation effect were the higher alcohols, cations and phenolic compounds. The sensory
evaluation showed that carbonic maceration originated lighter wines with lower color intensity; the
thermovinification and the conventional vinification originated wines with better body, better quality
and gustative balance and with higher varietal characteristic.
Index terms: enology, carbonic maceration, thermovinification.
atinge maturação e sanidade adequadas. Os compostos fenólicos são os constituintes que melhor diferenciam qualitativamente os vinhos tintos, pois interferem na cor, no extrato seco e, conseqüentemente, na qualidade desses vinhos (Ribéreau-Gayon &
Glories, 1986). No Brasil, onde é produzido um volume considerável de vinho tinto, observa-se, atualmente, um potencial para a elaboração de vinhos
tintos jovens. A maceração carbônica e a termovinificação são processos tecnológicos alternativos
para a elaboração desses vinhos. Além disso, possibilitam a obtenção de produtos com características
1 Aceito para publicação em 15 de outubro de 1998.
2 Eng. Agr., Dr., Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de
Uva e Vinho (CNPUV), Caixa Postal 130, CEP 95700-000
Bento Gonçalves, RS. E-mail: rizzon@cnpuv.embrapa.br
3 Eng. Agr., Dr., Embrapa-CNPUV. Bolsista do CNPq.
E-mail: miele@cnpuv.embrapa.br
4 Eng. Agr., Embrapa-CNPUV.
5 Eng. Agr., M.Sc., Embrapa-CNPUV. E-mail:
zanuz@cnpuv.embrapa.br
INTRODUÇÃO
Vinhos tintos de elevada qualidade somente são
obtidos em regiões vitícolas específicas, onde a uva
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sensoriais diferenciadas em relação aos elaborados
pelo processo clássico.
Na elaboração do vinho tinto pelo processo clássico, a fermentação alcoólica e a maceração ocorrem simultaneamente. Nessa fase, os constituintes
da parte sólida da uva, principalmente da película,
passam para o mosto através dos fenômenos de dissolução e de difusão (Ubigli, 1988).
A utilização do processo de maceração carbônica
é recomendável quando se dispõe de uva inteira,
sadia, com baixo teor de tanino e elevada concentração de ácido málico, açúcar e antocianinas
(Usseglio-Tomasset, 1986). Em condições anaeróbicas, a maceração carbônica transmite aos vinhos
algumas características diferenciadas, dadas as reações enzimáticas que ocorrem na baga intacta (André
et al., 1967; Flanzy et al., 1970; Arfelli, 1990). Nesse processo, a baga sofre uma fermentação
intracelular, em que o ácido málico, principal composto metabolizado, é transformado em álcool etílico
e em outras substâncias (Càstino, 1984; Versini
et al., 1984; Ubigli, 1986; Spagnolli, 1987; Villa,
1988).
A termovinificação é um processo indicado para
uvas tintas com pouca matéria corante e sanidade
deficiente (Ribéreau-Gayon et al., 1976; Peruzzi,
1991). Consiste principalmente na extração, pelo
aquecimento da uva, das antocianinas e de outros
compostos fenólicos responsáveis pela coloração dos
vinhos tintos. O processo deve ser conduzido de
modo a inativar as enzimas oxidativas, preservando
aquelas com atividades proteolíticas e pectinolíticas
(Wagener, 1981).
Esses processos de vinificação podem contribuir
para melhorar a qualidade dos vinhos finos brasileiros.
Com esse objetivo, estudaram-se os efeitos da
vinificação clássica, da maceração carbônica e da
termovinificação, na composição química e na qualidade do vinho Cabernet Franc.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado na Embrapa-Centro Nacional
de Pesquisa de Uva e Vinho, localizada em Bento Gonçalves, RS.
A uva Cabernet Franc foi colhida de 1987 a 1990, na
Fepagro-Estação Experimental de Caxias do Sul, localizada em Fazenda Souza, Caxias do Sul. A colheita foi
manual, e o transporte efetuado em caixas de plástico com
capacidade de 20 kg.
As vinificações foram realizadas em escala industrial,
com 3.000 kg de uva em cada processo de vinificação.
Não foi efetuada chaptalização do mosto em nenhuma safra
vitícola.
No processo de vinificação clássica, a uva foi separada da ráquis e esmagada. O período de maceração foi de
cinco dias, com duas remontagens diárias, com temperatura entre 25ºC e 28ºC. A seguir, o mosto foi separado da
parte sólida da uva e colocado em outro recipiente equipado com uma válvula. O desdobramento do ácido málico
pelas bactérias lácticas aconteceu espontaneamente e foi
acompanhado por cromatografia de papel.
No processo de maceração carbônica, a uva foi colocada, o mais intacta possível, num recipiente de aço inoxidável com capacidade para 4.000 L. A seguir, foi injetado dióxido de carbono no tanque, através de uma válvula, até alcançar 0,5 atm de pressão. Esta etapa da maceração
carbônica durou dez dias, e a temperatura variou de 25ºC
a 30ºC. Concluída esta fase, a uva foi colocada inteira,
inclusive com a ráquis, numa prensa horizontal
descontínua de pratos, para separar o mosto da parte sólida. A temperatura de fermentação foi de 20ºC.
No processo de termovinificação a uva foi separada
da ráquis, esmagada, aquecida a 65ºC e colocada, por 2
horas, em um depósito de aço inoxidável equipado com
mecanismo para homogeneização. A seguir, o mosto foi
separado da parte sólida da uva por meio de um esgotador
dinâmico e de uma prensa contínua. A fermentação alcoólica ocorreu sem a participação da parte sólida da uva e à
temperatura de 20ºC. O metabolismo do ácido málico pelas bactérias lácticas ocorreu espontaneamente, logo após
a fermentação alcoólica, e foi acompanhado de
cromatografia de papel.
Nos três processos de vinificação, adicionaram-se ao
mosto antes do início da fermentação alcoólica, 50 mg/L
de dióxido de enxofre e 0,20 g/L de levedura seca ativa
(Saccharomyces cerevisiae). Uma vez concluída a fermentação alcoólica, determinada pela análise do açúcar residual, o vinho foi resfriado a -4ºC, por dez dias, filtrado
com filtro de microfibra de vidro, com porosidade de
8,0 µm, acrescido de 50 mg/L de dióxido de enxofre e
engarrafado.
As determinações da densidade (DEN), teor alcoólico
(AL), acidez total (ACT), acidez volátil (ACV), pH, extrato seco (EXS), açúcares redutores (AÇR), extrato seco
reduzido (EXR), relação álcool em peso/extrato seco re-
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EFEITO DE TRÊS PROCESSOS DE VINIFICAÇÃO 1287
duzido (RAE), cinzas (CIZ) e alcalinidade das cinzas
(ALC) dos vinhos, foram realizadas através de métodos
descritos por Amerine & Ough (1976). Os polifenóis totais (POL), taninos (TAN), antocianinas (ANT), intensidade de cor (INT) e coloração (COL), foram determinados segundo Ribéreau-Gayon & Stonestreet (1965, 1966).
O Ca, Mg, Mn, Fe, Cu e Zn foram analisados por absorção atômica, enquanto que o K, Na, Li e Rb por emissão de chama (Perkin-Elmer, 1976). O teor de P foi determinado por colorimetria, com molibdato de amônio
(Tedesco et al., 1985). Os compostos voláteis acetato de
etila (ACE), metanol (MET), propanol-1 (PRO), metil-2
propanol-1 (M2P), metil-2 + metil-3 butanol-1 (M2M) e
a soma dos álcoois superiores (SAS) foram determinados
por cromatografia de fase gasosa. Para isso, utilizou-se
um aparelho equipado com um detector de ionização de
chama e uma coluna de aço inoxidável Carbowax 600, de
3,2 m de comprimento e de 1/8" de diâmetro interno. O
gás vetor utilizado foi o nitrogênio, na vazão de
30 mL/min. A temperatura do vaporizador foi de 140ºC,
a do forno de 98ºC e a do detector de 160ºC. A amostra de
vinho (3 µL) foi injetada diretamente, após ter recebido
10% do volume de uma solução de metil-4 pentanol-2 a
1 g/L como padrão interno (Bertrand, 1975).
Os vinhos foram analisados entre os meses de junho e
agosto do mesmo ano em que foram elaborados.
A análise sensorial foi efetuada pelo grupo de degustação da Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Uva e
Vinho (CNPUV). Foram realizadas duas sessões de avaliação, degustando os vinhos às cegas. Utilizou-se uma
ficha de degustação com itens referentes à intensidade de
cor, tonalidade, intensidade olfativa, qualidade olfativa,
aromas indesejáveis, intensidade gustativa, corpo,
adstringência, acidez, equilíbrio gustativo, qualidade
gustativa, gostos indesejáveis, equilíbrio olfato-gustativo,
tipicidade e impressão geral.
O estudo das diferenças dos vinhos em função do sistema de vinificação foi feito através da utilização da análise de componentes principais (Foucart, 1982; Rosier,
1992). Os valores da análise sensorial foram submetidos
à análise de variância e ao teste de Tukey.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os teores médios e os desvios padrão das 33 variáveis físico-químicas determinadas nos vinhos
Cabernet Franc, elaborados por meio da vinificação
clássica, da termovinificação e da maceração
carbônica, são apresentados na Tabela 1. A composição dos vinhos tintos Cabernet Franc elaborados
pelos três processos de vinificação corresponde aos
valores encontrados em outros trabalhos (Rizzon,
1987; Rizzon & Salvador, 1987; Miele et al., 1994).
A análise de componentes principais mostra que
os eixos 1, 2 e 3 explicam 31,2%, 22,0% e 15,0%,
respectivamente, ou seja, 68,2% da variação total.
A Fig. 1 corresponde à representação gráfica da
projeção dos vinhos no plano representado pelos
eixos 1 e 2.
O eixo 1 permite separar os vinhos de maceração
carbônica dos de vinificação clássica e de
termovinificação. Esses dois últimos processos de
vinificação originam vinhos semelhantes em relação à sua constituição química. Portanto, este eixo
pode ser considerado como sendo o do processo de
vinificação. Considerando a safra, o eixo 2 apresenta maior efeito discriminante quanto aos vinhos de
vinificação clássica e de termovinificação. Analiticamente, os vinhos da safra de 1987 foram semelhantes aos da safra de 1990, da mesma maneira que
os de 1988 se assemelharam aos de 1989. Diante
disso, esse eixo pode ser considerado como o eixo
que caracteriza a safra vitícola.
A representação gráfica das variáveis no plano
formado pelos eixos 1 e 2 é indicada na Fig. 2.
As variáveis melhor correlacionadas em cada eixo
são apresentadas na Tabela 2. As que compõem o
eixo 1 pertencem ao grupo dos álcoois superiores,
alguns cátions, antocianinas, índices de cor, pH e
acidez total.
Com relação aos álcoois superiores, eles já foram indicados por apresentar efeito discriminante
em vinhos de diferentes regiões vitícolas (Marais
et al., 1981; Medina & Van Zeller, 1984; Shinohara,
1984; Rizzon et al., 1987).
Entre os três processos de vinificação, os vinhos
de maceração carbônica se diferenciam por apresentar maior concentração de propanol-1 e menores teores de metil-2 propanol-1, metil-2 butanol-1 +
metil-3 butanol-1, e, conseqüentemente, menor valor para a soma dos álcoois superiores. A maceração
carbônica permitiu a obtenção de mostos mais
límpidos, proporcionando fermentação mais lenta e
com temperatura mais baixa, diminuindo os teores
da soma dos álcoois superiores. O propanol-1 foi
exceção, pois os fatores que favoreceram a sua síntese são antagônicos aos que favoreceram a formação dos demais álcoois superiores (Bertrand, 1975).
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1288 L.A. RIZZON et al.
O Fe, Li, Mn e Rb participaram da formação do
eixo 1 e contribuíram para a separação dos vinhos.
Os teores mais elevados desses minerais nos vinhos
de maceração carbônica deveram-se, possivelmente, à presença da ráquis no processo de maceração
carbônica e à prensagem da uva.
A coloração, a intensidade de cor e as antocianinas, também mostraram uma participação acentuada na diferenciação dos vinhos. A termovinificação se caracterizou por produzir vinhos com
maior intensidade de cor e antocianinas, enquanto
que os de maceração carbônica, ao contrário, apresentaram teores mais baixos desses pigmentos.
Càstino & Ubigli (1984) já haviam constatado a
pouca intensidade de cor do vinho Barbera, elaborado pelo processo de maceração carbônica. Considerando os valores da coloração (I 420/I 520), verificou-se que os vinhos de maceração carbônica apresentaram uma tonalidade mais oxidada que os elaborados pelos processos de termovinificação e clássico.
O pH e a acidez total foram outras duas variáveis
que se correlacionaram bem com o eixo 1. Os vinhos de maceração carbônica se diferenciaram dos
TABELA 1. Média e desvio padrão de características analíticas dos vinhos Cabernet Franc, elaborados por
meio de três processos de vinificação, nas safras de 1987 a 1990.
Variável Processo de vinificação
Clássico Termovinificação Maceração carbônica
Densidade (g/mL) 20/20ºC 0,9951 ± 0,0014 0,9951 ± 0,0014 0,9948 ± 0,0016
Teor alcoólico (%v/v) 11,20 ± 0,62 11,09 ± 0,53 11,03 ± 0,52
Acidez total (meq/L) 75,5 ± 2,5 73,0 ± 3,8 63,0 ± 9,3
Acidez volátil (meq/L) 9,5 ± 1,0 10,0 ± 3,8 12,8 ± 3,3
pH 3,59 ± 0,08 3,69 ± 0,12 3,89 ± 0,16
Extrato seco (g/L) 25,80 ± 2,89 24,20 ± 4,30 24,10 ± 1,24
Açúcares redutores (g/L) 2,88 ± 0,86 2,31 ± 0,70 2,37 ± 0,65
Extrato seco reduzido (g/L) 23,96 ± 3,65 22,89 ± 4,40 22,74 ± 1,38
Relação álcool em peso/extrato seco reduzido 3,81 ± 0,68 3,97 ± 0,79 3,89 ± 0,30
Cinzas (g/L) 3,03 ± 0,59 3,15 ± 0,49 3,53 ± 0,13
Alcalinidade das cinzas (meq/L) 23,60 ± 6,00 26,30 ± 5,06 29,00 ± 3,72
Polifenóis totais (I 280) 30,6 ± 8,7 38,7 ± 7,5 34,1 ± 8,3
Taninos (g/L) 1,53 ± 0,25 1,90 ± 0,36 1,95 ± 0,26
Antocianinas (mg/L) 311 ± 61 418 ± 37 221 ± 87
Intensidade de cor (I 420 + I 520) 0,751 ± 0,310 1,018 ± 0,338 0,568 ± 0,197
Coloração (I 420/I 520) 0,553 ± 0,177 0,510 ± 0,071 0,779 ± 0,309
Acetato de etila (mg/L) 74,2 ± 8,8 49,5 ± 17,2 93,7 ± 49,1
Metanol (mg/L) 173,2 ± 35,2 92,1 ± 14,1 94,8 ± 34,6
Propanol-1 (mg/L) 22,7 ± 6,6 17,2 ± 4,2 57,5 ± 24,6
Metil-2 propanol-1 (mg/L) 63,1 ± 11,1 60,0 ± 8,2 49,3 ± 17,6
Metil-2 + metil-3 butanol-1 (mg/L) 321 ± 80 342 ± 71 170 ± 16
Soma dos álcoois superiores (mg/L) 406 ± 80 419 ± 74 269 ± 5
K (mg/L) 1203 ± 181 1414 ± 234 1529 ± 149
Na (mg/L) 11,3 ± 8,3 9,9 ± 5,8 11,9 ± 7,9
Ca (mg/L) 74,6 ± 14,9 76,8 ± 13,2 63,3 ± 9,3
Mg (mg/L) 76,4 ± 13,1 72,8 ± 7,8 79,8 ± 8,9
Mn (mg/L) 2,2 ± 0,3 2,0 ± 0,2 3,1 ± 0,4
Fe (mg/L) 1,4 ± 0,3 1,6 ± 0,2 3,1 ± 1,1
Cu (mg/L) 0,8 ± 0,8 0,8 ± 0,7 0,4 ± 0,3
Zn (mg/L) 0,5 ± 0,1 0,8 ± 0,1 0,4 ± 0,2
Li (µg/L) 2,7 ± 1,1 2,9 ± 0,8 6,6 ± 2,6
Rb (mg/L) 5,4 ± 0,8 6,2 ± 0,7 7,5 ± 2,2
P (mg/L) 121 ± 27 131 ± 30 144 ± 55
Pesq. agropec. bras., Brasília, v.34, n.7, p.1285-1293, jul. 1999
EFEITO DE TRÊS PROCESSOS DE VINIFICAÇÃO 1289
sidade, alcalinidade das cinzas, Ca e K. Isso possivelmente ocorreu devido às condições climáticas
nessas duas safras, mais favoráveis à maturação da
uva.
O eixo 3 é formado por componentes relacionados aos fatores de solo e clima, como o Mg e P,
polifenóis totais e acidez total; é formado, também,
pelo acetato de etila, mais relacionado com o processo de vinificação (Tabela 2).
Quanto à análise sensorial, as médias das notas
atribuídas pelo grupo de degustação para os vinhos
FIG. 1. Projeção dos vinhos sobre o plano formado
pelos eixos 1 e 2. Legenda: 87, 88, 89 e
90 - Safras de 1987, 1988, 1989 e 1990;
VC - vinificação clássica; TV - termovinificação; MC - maceração carbônica.
FIG. 2. Círculo das correlações do plano formado pelos eixos 1 e 2. Legenda: DEN - densidade;
AL - teor alcoólico; ACT - acidez total;
ACV - acidez volátil; pH - pH; EXS - extrato
seco; AÇR - açúcares redurores; EXR - extrato seco reduzido; RAE - relação álcool em
peso/extrato seco reduzido; CIZ - cinzas;
ALC - alcalinidade das cinzas;
POL - polifenóis totais; TAN - taninos;
ANT - antocianinas; INT - intensidade de cor;
COL - coloração; ACE - acetato de etila;
MET - metanol; PRO - propanol-1;
M2P - metil-2 propanol-1; M2M - metil-2 +
metil-3 butanol-1; SAS - soma dos álcoois superiores; K - potássio; Na - sódio; Ca - cálcio;
Mg - magnésio; Mn - manganês; Fe - ferro;
Cu - cobre; Zn - zinco; Li - lítio; Rb - rubídio;
P - fósforo.
demais pelo pH mais elevado e acidez total mais
baixa. Na fermentação maloláctica, o ácido málico
é metabolizado em ácido láctico pela ação das bactérias, na maceração carbônica ele é transformado
em álcool etílico pela ação enzimática, provocando
uma redução na acidez total (Flanzy et al., 1967;
Ribéreau-Gayon et al., 1976; Spagnolli, 1987).
As variáveis melhor correlacionadas e que compõem o eixo 2 (Tabela 2) são as que fazem parte do
extrato do vinho, como a relação álcool em
peso/extrato seco reduzido, densidade, extrato seco
reduzido, alcalinidade das cinzas e extrato seco, e
os cátions Cu, Ca e K.
Os vinhos elaborados pelo processo de vinificação clássica e de termovinificação de 1988 e de
1989 se diferenciaram dos de 1987 e 1990, por apresentar maior valor da relação álcool em peso/extrato seco reduzido, Cu e açúcares redutores. As safras
de 1988 e de 1989 originaram vinhos mais leves,
isto é, com menos extrato seco e extrato seco reduzido. Os vinhos elaborados nas safras de 1987 e de
1990 se caracterizaram por apresentar valores mais
elevados de extrato seco, extrato seco reduzido, denMC 87
MC 89
MC 90
MC 88
TV 90
VC 87 TV 87
VC 90
TV 88
TV 89
VC 89
VC 88
Pesq. agropec. bras., Brasília, v.34, n.7, p.1285-1293, jul. 1999
1290 L.A. RIZZON et al.
de vinificação clássica, de maceração carbônica e
de termovinificação, estão indicadas na Tabela 3.
Observaram-se diferenças significativas quanto
à intensidade de cor, tonalidade, qualidade olfativa,
corpo, acidez, equilíbrio gustativo, qualidade
gustativa, equilíbrio olfato-gustativo, tipicidade e
impressão geral. Do ponto de vista sensorial, os processos de vinificação clássica e de termovinificação
originaram vinhos mais parecidos que os de
maceração carbônica. Esse fato foi evidenciado anteriormente pela análise de componentes principais
com os resultados das análises físico-químicas dos
vinhos.
Quanto ao aroma, as transformações bioquímicas que interferiram na uva e no mosto durante o
processo de maceração carbônica originaram vinhos
com menor qualidade olfativa.
A maceração carbônica também se distinguiu por
apresentar vinhos mais leves, menos estruturados,
com menos corpo. Em relação à acidez total, obserTABELA 2. Correlação entre as variáveis e os três principais eixos.
Variável Eixo
123
Densidade (g/mL) 20/20ºC 0,2188 0,9008* 0,2573
Teor alcoólico (%v/v) -0,2808 -0,4210 0,3247
Acidez total (meq/L) 0,6751* -0,1361 0,6442*
Acidez volátil (meq/L) -0,4517 -0,0555 0,4850
pH -0,7051* 0,4054 -0,1533
Extrato seco (g/L) 0,1795 0,7445* 0,3828
Açúcares redutores (g/L) 0,1994 -0,5859 0,4466
Extrato seco reduzido (g/L) 0,1208 0,8273* 0,2526
Relação álcool em peso/extrato seco reduzido -0,1550 -0,9028* -0,1546
Cinzas (g/L) -0,5658 0,5583 0,4132
Alcalinidade das cinzas (meq/L) -0,4250 0,7975* 0,0041
Polifenóis totais (I 280) 0,3111 0,5579 -0,6357*
Taninos (g/L) -0,2459 -0,0566 -0,2194
Antocianinas (mg/L) 0,6466* 0,2542 -0,4396
Intensidade de cor (I 420 + I 520) 0,6869* 0,4128 0,1366
Coloração (I 420 / I 520) -0,7799* -0,2182 -0,3899
Acetato de etila (mg/L) -0,4029 -0,1180 0,7787*
Metanol (mg/L) 0,3849 -0,3228 0,2002
Propanol-1 (mg/L) -0,8177* 0,2021 -0,3025
Metil-2 propanol-1 (mg/L) 0,6846* 0,1411 0,3967
Metil-2 + metil-3 butanol-1 (mg/L) 0,8977* 0,0851 -0,1475
Soma dos álcoois superiores (mg/L) 0,9041* 0,1617 -0,1213
K (mg/L) -0,2610 0,6009* -0,2307
Na (mg/L) -0,3769 -0,1142 0,3586
Ca (mg/L) 0,5281 0,6639* 0,1974
Mg (mg/L) -0,3869 -0,1306 0,7688*
Mn (mg/L) -0,8202* 0,3191 -0,0226
Fe (mg/L) -0,8711* 0,0534 0,0657
Cu (mg/L) 0,1743 -0,7753* -0,0472
Zn (mg/L) 0,5425 0,2263 -0,5687
Li (µg/L) -0,8508* 0,2955 -0,1240
Rb (mg/L) -0,7435* 0,1816 -0,3779
P (mg/L) -0,0565 0,4867 0,6826*
*Correlações consideradas importantes.
Pesq. agropec. bras., Brasília, v.34, n.7, p.1285-1293, jul. 1999
EFEITO DE TRÊS PROCESSOS DE VINIFICAÇÃO 1291
vou-se diferença significativa entre o vinho de
termovinificação, considerado o mais ácido na avaliação sensorial, e o de maceração carbônica, julgado menos ácido.
Quanto ao gosto, o vinho de maceração carbônica
se diferenciou por apresentar notas significativamente mais baixas no que se refere ao equilíbrio
gustativo, equilíbrio olfato-gustativo e qualidade
gustativa. Os vinhos de termovinificação e de
vinificação clássica tiveram melhor impressão geral.
CONCLUSÕES
1. A análise de componentes principais permite
separar os vinhos de maceração carbônica dos elaborados por termovinificação e por vinificação clássica.
2. A termovinificação possibilita a obtenção de
vinhos tintos com mais cor e extrato.
3. A maceração carbônica origina vinhos mais
leves e com menor intensidade de cor e acidez.
4. O vinho de maceração carbônica se diferencia
por apresentar notas mais baixas em equilíbrio
gustativo, equilíbrio olfato-gustativo e qualidade
gustativa.
5. Os vinhos de termovinificação e de vinificação
clássica apresentam melhor impressão geral.
velha, da alta sociedade de João Pessoa, na Paraíba. Ambos se conheceram num
Carnaval.
com uma pessoa influente da sociedade, e nunca iria largar toda aquela vida por
um “garoto pé rapado” que ela apenas “usava”.
que tomava proporções grandes, foi terminado. Zé ficou arrasado por meses, e
chegou a mudar de bairro, pois morava próximo a ela. E, nesse período de
sofrimento, compôs essa canção. Conhecendo a história, tu consegues perceber a
explicação para cada frase da música, que passo a transcrever:
dessa solidão, espalho coisas sobre um chão de giz”
no sofrimento, era espalhar pelo chão todas as coisas que lembravam o caso dos
dois. O chão de giz também indica a fugacidade do relacionamento, facilmente
Devaneios, viagens, a lembrança dela a torturá-lo.
recortadas de jornais de folhas amiúde”
admirar TODAS as fotos dela que saiam nos jornais – lembrem-se, ela era da alta
sociedade, sempre estava nas colunas sociais.
de guardar confetes”
sacos típico das costureiras do nordeste, onde elas jogam restos de pano, papel,
etc. Aqui, ele diz que vai jogar as fotos dela fora num pano de guardar
confetes, para não mais ficar olhando-as.
inútil pois existe um grão vizir”
formas, mas é inútil pois ela é casada com o tal figurão rico.
“Há tantas violetas velhas sem um colibri”
ela… há tantas violetas velhas (como ela, bela, mas velha) sem um colibri
(jovem pássaro que a admire). Aqui ele tenta novamente convencê-la
simbolicamente, destacando a sorte dela – violeta velha – poder ter um colibri e
rejeitá-lo.
vênus”
que quer usar uma camisa de força, para manter-se distante dela e não sofrer
mais, queria também usar uma camisa de vênus, para transar com ela.
não vou gozar de nós apenas um cigarro”
do amor dela por ele, que o queria apenas para “gozar o tempo de um
cigarro”. Percebe-se o tempo todo que ele sente por ela profundo amor e
tesão, enquanto é correspondido apenas com o tesão, com o gozo que dura o tempo
de se fumar um cigarr…
“Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom”
“gastando o seu batom”
(o seu amor), se ela quer apenas o
sexo?
vez”
Mas, apaixonado como está, vai novamente “à lona” – expressão que
significa ir a nocaute no boxe, mas que também significa a lona do caminhão com
o qual ele foi embora – lembrem-se que ele teve que se mudar de sua residência
para “fugir” desse amor doentio!
seu calcanhar”
acorrentá-lo, amor inesquecível.
over, baby” , Freud explica”
um boy, ela era uma dama da sociedade. Freud explica um amor desse (complexo de
édipo, talvez?). Em …
“Não vou me sujar fumando apenas um cigarro”
transando apenas mais uma vez com ela, sabendo que nunca passará
disso!
carnaval”
das fotos dela, que ele iria jogar num pano de guardar confetes, ele consolida o
fim, dizendo que agora já passou seu carnaval, ou seja, terminou, passou o
momento.
faz um arremate do que parece ter sido apenas o que restou do amor dele por ela
(ou dela por ele): sexo. Por isso o sexo é tão popular, pois só ele é valorizado
– uma constatação amarga para ele, nesse caso.
Há quem veja também aqui uma referência do sexo a ela através do termo
“popular”, que se referiria ao jornal (populares), e ela sempre estava
nos jornais, ele sempre a via neles.
embora”
dizendo tudo que pensa a ela na canção, só resta-lhe ir embora.
Geral foi dada pelo próprio Zé Ramalho
Será que “chão de giz” não pode ser referir a cocaína espalhada sobre uma mesa que se olha em profunda depressão! Sofrimento dor e cocaína?!
Gente esta música foi feita por ele na época em que ele largou a cocAína …..chão de giz…..fala de sua dependência….de que ele não conseguia largar a s drogas…. estava sempre acorrentado ….. vai a locaute outra vês…pois el tenta e não consegue se desvencilhar…devaneios…..não vai se sujar apenas por um cigarro…. e ou seja não vale mais a pena …não leva a a nada ….ele sempre se sentia só …deprimido…no mais estou indo embora..´seria ele tentando largar a cocaína e deixar o passado…as vezes ele dá a entender que fora um “amor” o q não deixa de ser ua comparação para dependentes químicos …….
E se formos analizar tem letra mais complicada ainda de se interpretar como por exemplo Jardim das Acácias.
Mas valeu a todos. Bom mesmo é viajar nas idéias
acredito q nem o próprio Zé tenha explicações plausíveis, hoje, p o q sentiu e escreveu naquele momento. Essa questão de escrita é da ordem da subjetividade, da alteridade… fica difícil , é pretencioso esmiuçá-la, pois pertence a um tempo q se foi e q já não é. interpretar ? a si é perigoso e aos outros? basta sentir, imaginar, compreender q não é o mesmo q interpretar. No mais, acho corajosa e oportuna a vontade de nos pronunciarmos a respeito de algo tão singular como um momento de inspiração de um poeta. Colocar em relevância se a letra tem notas alucinógenas ou não, tira o brilho da letra? Não, não é uma apologia ao uso de drogas… a propósito: vc já leu sobre a “mosca azul” do Machado? vista de perto, ela continua Azul? abraços a todos qtos já se manifestaram a respeito do Chão do Zé.
Apeado dos devaneios da solidão delirante, o poeta pretende guardar as lembranças indesejadas em um recipiente feito para armazenar, temporariamente, objetos que serão descartados durante uma festividade: um carnaval, que já acabou. Um chão falso, um apego tolo.
Mostra, então, que tentou inutilmente lutar, mas foi vencido por poder maior. Diante disso, demonstra que não vai perder tempo, há outras flores velhas precisando de sua atenção e não vale a pena despediçar seu sabor com ela, que quer apenas a vulgaridade, a banalidade popular do sexo, acompanhada de um cigarro ao final. Se for para isso, não lhe resta outra opção senão despedir-se.
Seria mais convincente você retratar “Chão de giz”
“Desço dessa solidão, espalhos acontecimentos da minha vida, sobre um chão de giz” – Para esquecer dos problemas…
“Lembranças ruins de minha vida…
Meros devaneios tolos..a me torturar”
-O papel da fotografia é mais grosso(serviria como espátula) mais fácil de preparar as carrerinhas da cocaína. Além disso a fotografia lembra os sentimentos de família e com isso o autor transmite problemas familiares por causa do vício…em jornais de
folha seria o papel aonde embrulha a cocaína…Amiúde(frequentemente)”
“Vou te jogar num pano de guardar confetes”
– O pano de guardar confetes é geralmente de cor branca…com isso o “pó”, ficaria “invisível”
ao se guardar nele…E então o ajudando a não encherga-lo e esquecer do vício.
“Disparo todas as minhas forças contra isso…é inútil pois, existe um grão vizir”
– pequena particula da coca…e vizir no dicionário é um fardo que ele terá que carregar por muito tempo.
ou seja…
Ele pode disparar todas as balas de canhão que for, mas existe esse grão de autoridade perante a ele.
Tantas violetas velhas sem seu beija-flor
violetas são lugares onde o beija-flor é acostumado a ir.
Então existe tantas “bocas de drogas” sem um colibri.
Existe muitos viciados que conseguiram superar
e desviar desse caminho sombrio.
¬¬ “camisa de venus” era uma banda de rock brasileiro
que fez pouco sucesso e foi ao fim em 1998.
GOSTARIA DE USAR UMA CAMISA DE FORÇA OU OUTRA DROGA QUALQUER.
“Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom”
ser para apenas um “teco” e sim vários…
“Agora pego um caminhão, na lona vou a nocaute outra vez”
Consome uma grande carreira de cocaína e com isso “cai
a lona” novamente.
-Para sempre foi escravo de tudo isso.
E não é mais aquela alegria de quando começou a utilizar
a droga.
Não vai estragar o período em que ficou “limpo” (sem usar drogas).
se “sujando” para saciar a vontade de um cigarro.
Passou os momentos alegres…momentos que ele fazia festa
de quanto cheirava sem se preocupar.
Claramente porque o sexo é um vício que não é proibido.
-Não quero mais saber desse vício.
Os mitos e preconceitos não podem tirar o brilho dessa canção pois expressam palavras maiores que nossas palavras, capazes de nos fazer calar….j
creio que Zé Ramalho estivesse fazendo uma apologia às dro-
gas, seria se expor demais, embora deva ter se envolvido
com elas. Que importa? Quem somos nós para julgá-lo?
O brilho desta letra retrata o universo musical surrea-
lista da obra de Zé, maior representante do cenário paraibano.
Orgulho-me de ser conterrânea e contemporânea dele.