Zé Ramalho

EU Desço dessa solidão, espalho coisas sobre um chão de giz
Há meros devaneios tolos a me torturar
Fotografias recortadas em jornais de folhas amiúde
Eu vou te jogar num pano de guardar confetes
Eu vou te jogar num pano de guardar confetes
Disparo balas de canhão, é inútil pois existe um grão vizir
Há tantas violetas velhas sem um colibri
Queria usar quem sabe uma camisa de força ou de vênus
Mas não vão gozar de nós apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom
Introdução
Agora pego um caminhão, na lona vou a nocaute outra vez
Pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar
Meus vinte anos de "boy, that's over, baby" , Freud explica
Não vou me sujar fumando apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom
Quanto ao pano dos confetes já passou meu carnaval
E isso explica porque o sexo é assunto popular
no mais estou indo embora 3x
No mais…
  1. Zé teve, em sua juventude, um caso duradouro com uma mulher casada, bem mais
    velha, da alta sociedade de João Pessoa, na Paraíba. Ambos se conheceram num
    Carnaval.
    Ele se apaixonou perdidamente por esta mulher, porém ela era casada
    com uma pessoa influente da sociedade, e nunca iria largar toda aquela vida por
    um “garoto pé rapado” que ela apenas “usava”.
    Assim, o caso,
    que tomava proporções grandes, foi terminado. Zé ficou arrasado por meses, e
    chegou a mudar de bairro, pois morava próximo a ela. E, nesse período de
    sofrimento, compôs essa canção. Conhecendo a história, tu consegues perceber a
    explicação para cada frase da música, que passo a transcrever:
    “Eu desço
    dessa solidão, espalho coisas sobre um chão de giz”
    Um de seus hábitos,
    no sofrimento, era espalhar pelo chão todas as coisas que lembravam o caso dos
    dois. O chão de giz também indica a fugacidade do relacionamento, facilmente


  2. frase a frase continuando
    Devaneios, viagens, a lembrança dela a torturá-lo.
    “Fotografias
    recortadas de jornais de folhas amiúde”
    Outro hábito seu era recortar e
    admirar TODAS as fotos dela que saiam nos jornais – lembrem-se, ela era da alta
    sociedade, sempre estava nas colunas sociais.
    “Eu vou te jogar num pano
    de guardar confetes”
    Pano de guardar confetes são aqueles balaios ou
    sacos típico das costureiras do nordeste, onde elas jogam restos de pano, papel,
    etc. Aqui, ele diz que vai jogar as fotos dela fora num pano de guardar
    confetes, para não mais ficar olhando-as.
    “Disparo balas de canhão, é
    inútil pois existe um grão vizir”
    Ele tenta ficar com ela de todas as
    formas, mas é inútil pois ela é casada com o tal figurão rico.

  3. “Há tantas violetas velhas sem um colibri”
    Aqui ele pega pesado com
    ela… há tantas violetas velhas (como ela, bela, mas velha) sem um colibri
    (jovem pássaro que a admire). Aqui ele tenta novamente convencê-la
    simbolicamente, destacando a sorte dela – violeta velha – poder ter um colibri e
    rejeitá-lo.
    “Queria usar quem sabe uma camisa de força ou de
    vênus”
    Bem, aqui é a clara dualidade do sentimento dele. Ao mesmo tempo
    que quer usar uma camisa de força, para manter-se distante dela e não sofrer
    mais, queria também usar uma camisa de vênus, para transar com ela.
    “Mas
    não vou gozar de nós apenas um cigarro”
    Novamente ele invoca a fugacidade
    do amor dela por ele, que o queria apenas para “gozar o tempo de um
    cigarro”. Percebe-se o tempo todo que ele sente por ela profundo amor e
    tesão, enquanto é correspondido apenas com o tesão, com o gozo que dura o tempo
    de se fumar um cigarr…


  4. “Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom”
    Para que beijá-la,
    “gastando o seu batom”
    (o seu amor), se ela quer apenas o
    sexo?
    “Agora pego um caminhão, na lona vou a nocaute outra
    vez”
    Novamente ele resolve ir embora, após constatar que é inútil tentar.
    Mas, apaixonado como está, vai novamente “à lona” – expressão que
    significa ir a nocaute no boxe, mas que também significa a lona do caminhão com
    o qual ele foi embora – lembrem-se que ele teve que se mudar de sua residência
    para “fugir” desse amor doentio!
    “Pra sempre fui acorrentado no
    seu calcanhar”
    Auto-explicativo, né?! Esse amor que, para sempre, irá
    acorrentá-lo, amor inesquecível.
    “Meus vinte anos de boy, “that’s
    over, baby” , Freud explica”
    Ele era bem mais novo que ela. Ele era
    um boy, ela era uma dama da sociedade. Freud explica um amor desse (complexo de
    édipo, talvez?). Em …

  5. “Não vou me sujar fumando apenas um cigarro”
    Ele não vai se sujar
    transando apenas mais uma vez com ela, sabendo que nunca passará
    disso!
    “Quanto ao pano dos confetes, já passou meu
    carnaval”
    Lembrem-se, eles se conheceram num carnaval. Voltando a falar
    das fotos dela, que ele iria jogar num pano de guardar confetes, ele consolida o
    fim, dizendo que agora já passou seu carnaval, ou seja, terminou, passou o
    momento.
    “E isso explica porque o sexo é assunto popular”
    Aqui ele
    faz um arremate do que parece ter sido apenas o que restou do amor dele por ela
    (ou dela por ele): sexo. Por isso o sexo é tão popular, pois só ele é valorizado
    – uma constatação amarga para ele, nesse caso.

  6. Há quem veja também aqui uma referência do sexo a ela através do termo
    “popular”, que se referiria ao jornal (populares), e ela sempre estava
    nos jornais, ele sempre a via neles.
    “No mais estou indo
    embora”
    Bem, aqui é o fechamento. Após sofrer tanto e depois desabafar,
    dizendo tudo que pensa a ela na canção, só resta-lhe ir embora.
    A explicação
    Geral foi dada pelo próprio Zé Ramalho

  7. Será que “chão de giz” não pode ser referir a cocaína espalhada sobre uma mesa que se olha em profunda depressão! Sofrimento dor e cocaína?!

  8. O termo chão de giz, para mim, sempre teve dois significados paradoxais!
    * Algo que se apaga fácil… Mas, ao mesmo tempo algo que fica marcado! Eu fico pensando em um chão manchado de giz… Se alguém pisa fica a marca… e se esse alguém continua andando saí deixando marcas nos lugares limpos!  



  9. Gente esta música foi feita por ele na época em que ele largou a cocAína …..chão de giz…..fala de sua dependência….de que ele não conseguia largar a s drogas…. estava sempre acorrentado ….. vai a locaute outra vês…pois el tenta e não consegue se desvencilhar…devaneios…..não vai se sujar apenas por um cigarro…. e ou seja não vale mais a pena …não leva a a nada ….ele sempre se sentia só …deprimido…no mais estou indo embora..´seria ele tentando largar a cocaína e deixar o passado…as vezes ele dá a entender que fora um “amor” o q não deixa de ser ua comparação para dependentes químicos …….



  10. Mas parece que a letra está de fato puxada à questão da depressão causada pela coca, pois o Zé já cheirou muito ( e quem pode dizer que ainda não ), e Chão de giz foi a forma de expressar isso.
    E se formos analizar tem letra mais complicada ainda de se interpretar como por exemplo Jardim das Acácias.
    Mas valeu a todos. Bom mesmo é viajar nas idéias

  11. acredito q nem o próprio Zé tenha explicações plausíveis, hoje, p o q sentiu e escreveu naquele momento. Essa questão de escrita é da ordem da subjetividade, da alteridade… fica difícil , é pretencioso esmiuçá-la, pois pertence a um tempo q se foi e q já não é. interpretar ? a si é perigoso e aos outros? basta sentir, imaginar, compreender q não é o mesmo q interpretar. No mais, acho corajosa e oportuna a vontade de nos pronunciarmos a respeito de algo tão singular como um momento de inspiração de um poeta. Colocar em relevância se a letra tem notas alucinógenas ou não, tira o brilho da letra? Não, não é uma apologia ao uso de drogas… a propósito: vc já leu sobre a “mosca azul” do Machado? vista de perto, ela continua Azul? abraços a todos qtos já se manifestaram a respeito do Chão do Zé.
  12. :




  13. Apeado dos devaneios da solidão delirante, o poeta pretende guardar as lembranças indesejadas em um recipiente feito para armazenar, temporariamente, objetos que serão descartados durante uma festividade: um carnaval, que já acabou. Um chão falso, um apego tolo.
    Mostra, então, que tentou inutilmente lutar, mas foi vencido por poder maior. Diante disso, demonstra que não vai perder tempo, há outras flores velhas precisando de sua atenção e não vale a pena despediçar seu sabor com ela, que quer apenas a vulgaridade, a banalidade popular do sexo, acompanhada de um cigarro ao final. Se for para isso, não lhe resta outra opção senão despedir-se.

  14. Seria mais convincente você retratar “Chão de giz”
  15. como “Tablado de cocaína”.
    “Desço dessa solidão, espalhos acontecimentos da minha vida, sobre um chão de giz” – Para esquecer dos problemas…
    “Lembranças ruins de minha vida…
    Meros devaneios tolos..a me torturar”
    “Fotografias recortadas em jornais de folhas…amiúde”
    -O papel da fotografia é mais grosso(serviria como espátula) mais fácil de preparar as carrerinhas da cocaína. Além disso a fotografia lembra os sentimentos de família e com isso o autor transmite problemas familiares por causa do vício…em jornais de
    folha seria o papel aonde embrulha a cocaína…Amiúde(frequentemente)”
    “Vou te jogar num pano de guardar confetes”
    – O pano de guardar confetes é geralmente de cor branca…com isso o “pó”, ficaria “invisível”
    ao se guardar nele…E então o ajudando a não encherga-lo e esquecer do vício.
    “Disparo todas as minhas forças contra isso…é inútil pois, existe um grão vizir”
    – pequena particula da coca…e vizir no dicionário é um fardo que ele terá que carregar por muito tempo.
    Porém podemos pensar também que durante o Império Otomano, o GRÃO_VIZIR era a mais alta autoridade depois do sultão.
    ou seja…
    Ele pode disparar todas as balas de canhão que for, mas existe esse grão de autoridade perante a ele.
    “Há tantas violetas velhas sem um colibri”
    Colibri é um beija-flor.
    Tantas violetas velhas sem seu beija-flor
    violetas são lugares onde o beija-flor é acostumado a ir.
    Então existe tantas “bocas de drogas” sem um colibri.
    Existe muitos viciados que conseguiram superar
    e desviar desse caminho sombrio.
    “Queria usar quem sabe uma camisa de força ou de Venus”
    ¬¬ “camisa de venus” era uma banda de rock brasileiro
    que fez pouco sucesso e foi ao fim em 1998.
    GOSTARIA DE USAR UMA CAMISA DE FORÇA OU OUTRA DROGA QUALQUER.
    “Mas não vou gozar de nós apenas um cigarro”
    “Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom”
    Se caso o autor tenha alguma recaíca pelo “pó”…não vai
    ser para apenas um “teco” e sim vários…
    Por isso logo depois uma recaída…
    “Agora pego um caminhão, na lona vou a nocaute outra vez”
    Consome uma grande carreira de cocaína e com isso “cai
    a lona” novamente.
    “Pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar”
    -Para sempre foi escravo de tudo isso.
    E com isso os vinte anos de BOY dele….se acabou…
    E não é mais aquela alegria de quando começou a utilizar
    a droga.
    “Não vou me sujar fumando apenas um cigarro”
    Não vai estragar o período em que ficou “limpo” (sem usar drogas).
    se “sujando” para saciar a vontade de um cigarro.
    “Quanto ao pano dos confetes já passou meu carnaval”
    Passou os momentos alegres…momentos que ele fazia festa
    de quanto cheirava sem se preocupar.
    “Isso explica porque o sexo é assunto popular”
    Claramente porque o sexo é um vício que não é proibido.
    E agora “no mais estou indo embora”
    -Não quero mais saber desse vício.




  16. O lindo de Chao de giz, além de sua bela melodia, é a diversidade de interpretações que ela proporciona….se fala de amor por uma mulher mais velha, ou cocaína ou como diz um amigo meu “uma eterna briga com seu próprio eu”, é o que menos importa…é difícil saber o que o poeta pensava naquele momento, naquela época… por isso é diferenciado.
    Os mitos e preconceitos não podem tirar o brilho dessa canção pois expressam palavras maiores que nossas palavras, capazes de nos fazer calar….j

  17. Faça um risco risco com um jiz e parecerá uma linha de pó, isso e o que realmente a musica retrata, a sua labuta contra o vicio e ponto final.

  18. dentro, para cada pessoa a música expressa um sentimento diferente,pra mim ela significa isso, para outros aquilo, e isso mesmo é o que é o excitante nas músicas. A música é “grande”, qdo permite que se funda com nosso íntimo, essa mesma é a intenção dos autores… por isso, seria antiético taxarmos uma única definição, a música é como qualquer obra de arte, uma pluraridade de sentidos, sentimentos e pontos de vista. è como observar um quadro, uns sentem A e outros B, mas nem por isso o quadro deixa de ser envolvente.

  19.  Não
    creio que Zé Ramalho estivesse fazendo uma apologia às dro-
    gas, seria se expor demais, embora deva ter se envolvido
    com elas. Que importa? Quem somos nós para julgá-lo?
    O brilho desta letra retrata o universo musical surrea-
    lista da obra de Zé, maior representante do cenário paraibano.
    Orgulho-me de ser conterrânea e contemporânea dele.