sábado, 26 de dezembro de 2020

o dilema inovador

 





Em pouco tempo, Christensen ganhou enorme reconhecimento: seu livro foi considerado o melhor do ano na área de negócios, presidentes de empresa passaram a adulá-lo e ele se ergueu imediatamente ao patamar dos grandes gurus da administração. Está lá, merecidamente, no panteão, com Peter Drucker, Peter Senge, Tom Peters, Philip Kotler...

Com tanta demanda por seus esclarecimentos, era natural que Christensen continuasse sua obra. Ele então lançou um livro baseado em suas aulas, Innovation and the general manager (“Inovação e o administrador”) e, em 2003, The innovator’s solution (“A solução do inovador”), em que acompanha as melhores estratégias para as empresas romperem a si próprias, antes que algum estranho o faça. Depois vieram The innovative university (“A universidade inovadora”), The innovator’s prescription (“Inovação na gestão de saúde”), Seeing what’s next (“Prevendo o futuro”)... Christensen também criou uma consultoria, a Innosight, e uma empresa de investimentos. Enfim, fez o que faria qualquer empresa, diante de um produto do qual o público não cansa: ampliou seu mercado, criou continuações, estabeleceu sua marca.

No ano passado, pouco antes de completar 58 anos, foi diagnosticado com um tipo de câncer chamado linfoma folicular. O tratamento (sobre o qual dá detalhes em seu site) não o impediu de seguir trabalhando. Com dois de seus colegas, Jeff Dyer e Hal Gregersen, Christensen lançou em julho o livro The innovator’s DNA – mastering the five skills of disruptive innovators (“O DNA do inovador – dominando as cinco habilidades dos inovadores”).

A INOVAÇÃO...
Em seu primeiro livro, Clayton Christensen mostrou o mecanismo – e a ameaça – da inovação de ruptura. O número de cópias vendidas supera os 15milhões
   Divulgação

 DECEPÇÃO

O problema é que esse livro é decepcionante. Não é apenas porque seu título carregue uma contradição – o DNA é por princípio hereditário, não algo a ser aprendido. Também não é por falta de pesquisas. Segundo os autores, foram oito anos de estudos. A decepção maior é porque todas as suas “descobertas”... já foram descobertas antes.

O próprio método para chegar às conclusões é um tanto questionável. O livro busca linhas mestras para o sucesso a partir do estudo de comportamentos e atitudes que deram certo. É um método seguro para encontrar receitas, mas falho em comprová-las. Se você estudar uma amostra de milionários que nasceram pobres, pode notar que quase todos têm alto grau de tolerância ao risco. Mas não dá para recomendar o hábito, porque você simplesmente ignorou no estudo as milhares de pessoas que tinham alta tolerância ao risco e ficaram ainda mais pobres do que eram antes. Os autores fazem uma brevíssima menção a isso antes de entoar seu mantra: todo mundo pode desenvolver as características que vitoriosos como Steve Jobs, Jeff Bezos ou Larry Page têm.

A falta de rigor, às vezes, é compensada por insights, como costuma fazer Jim Collins (outro que usa o método de estudar casos de sucesso). No novo livro de Christensen, porém, o que sobram são platitudes. Há passagens assim: “... de onde veio a inclinação experimentadora de Jeff Bezos (Amazon)? Parte da explicação é genética, certamente. Ainda pequeno, cansado de ter de dormir num berço, ele tentou desmontá-lo com uma chave de fenda”. É esse o segredo? Ou como essa outra: “... descobrimos que inovação de sucesso, num time, exige duas habilidades: gerar ideias e executar ideias”. Li. Reli. Tornei a ler. Confesso que não consegui perceber a genialidade.

Não se trata de um livro sem tese. Ela existe, e é mais ou menos a seguinte: os inovadores têm cinco características que os distinguem dos mortais comuns. A primeira: são especialistas em conectar ideias de áreas que nada têm a ver umas com as outras. Steve Jobs (sempre ele) frequentou um curso de caligrafia no tempo em que vagava desocupado pelo campus da universidade que abandonara. Mais tarde, usou o que aprendeu no design de fontes para o Macintosh. Para criar seu algoritmo, os caras do Google se inspiraram no método das formigas para localizar alimento: não saia procurando aleatoriamente (como os buscadores na web de então faziam), siga quem já achou o que você procura. (Perfeito. Mas a importância das “conexões improváveis” já havia sido identificada nos anos 40 pelo pesquisador russo Genrich Altshuller.)

Resumindo: um método capenga, exemplos batidos, conclusões velhas. Por que Christensen pôs seu nome nesse livro?


As outras quatro características: você tem de ser um bom observador, tem de se dar bem com gente de diferentes origens (para perceber visões diferentes), deve gostar de experimentar e, finalmente, deve perguntar o tempo todo “por quê?”. (Todas recomendações feitas no ano 2000, no livro Jogando pra valer, de Michael Schrage.)

Resumindo: um método capenga, exemplos batidos (a visita de Jobs à Xerox, o gênio observador de Michael Dell, o modelo da Southwest Airlines), conclusões velhas. Por que Clayton Christensen pôs seu nome nesse livro?

Minha tese: ele sucumbiu ao dilema que descreve em sua primeira obra. As empresas não deixam de ser inovadoras por preguiça. É da própria natureza do negócio buscar a eficiência e, quando se faz algo muito bem, como virar as costas para as exigências do público? Acontece a todo momento, em todo lugar – até no cinema. Jack Nicholson faz magistralmente o papel de alucinado, e passa a ser assediado por diretores que o querem para um papel de... alucinado. Jim Carrey faz sucesso com caretas e passa anos até resolver que não quer mais fazer caretas.

Clayton Christensen parece estar nesse caso. Foi genial ao decifrar o dilema do inovador. Agora está sendo devorado por ele.

 ... E O DILEMA
o mais recente livro do professor é fraco. Mas tem algo de bom

O melhor do livro é quando ele sugere como fazer um ranking de empresas inovadoras. O método da revista Business Week (perguntar para personalidades dos negócios) é apenas um concurso de popularidade. Christensen & colaboradores, com ajuda do Credit Suisse First Boston, propõem determinar a percentagem do valor de mercado de uma empresa que pode ser atribuída a seus produtos/serviços existentes; e compará-lo ao valor de mercado. O tamanho da diferença é o tanto de expectativa que os investidores têm de que a empresa vai inovar, com produtos/serviços capazes de gerar dinheiro novo

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