segunda-feira, 15 de outubro de 2018
A uva Vitis labrusca
A uva Vitis labrusca é uma fruta que tem despertado grande interesse
entre os produtores rurais devido à sua alta produtividade, rusticidade e
aproveitamento de seus frutos nas mais diversas formas. O fruto in natura e os
produtos obtidos a partir de seu processamento (vinhos, sucos, geleias, vinagres,
entre outros) são bastante apreciados pelos consumidores.
Considerando que o consumidor procura cada vez mais produtos
alimentícios industrializados, principalmente aqueles com alto valor nutricional
e tecnológico agregado, a vinificação de uvas da espécie Vitis spp. constitui-se
numa alternativa promissora, o que ajuda a aumentar o consumo desse fruto na
forma de produtos inovadores, bem como aumenta a renda dos pequenos
produtores ou da agricultura familiar.
O valor nutricional advém não somente dos macronutrientes do fruto,
como as proteínas, carboidratos complexos e lipídeos, mas também de
compostos originários do metabolismo secundário das plantas, que são
denominados genericamente de fitoquímicos (BRAVO, 1998; HALLIWELL;
CLEMENT; LONG, 2000). Essas substâncias são capazes de agir como
protetores frente ao estresse oxidativo, atuando como varredores de radicais
livres e/ou moduladores dos mecanismos de defesa antioxidante do sistema de
reparo do DNA (RATNAM et al., 2006).
Os compostos fenólicos constituem-se num grupo complexo de
substâncias químicas presentes em plantas e produtos de origem vegetal. Sua
atividade antioxidante é principalmente devido às suas propriedades de óxidoredução, as quais podem desempenhar um importante papel na absorção e
neutralização de diferentes espécies de radicais livres (DEGÁSPARI, 2004).
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O elevado valor nutricional das Vitis labruscas também está relacionado à
presença significativa de compostos fenólicos em sua composição, principalmente
na sua casca. Sendo assim, apesar dessa fração do fruto ser normalmente rejeitada
no consumo in natura e industrial, justifica-se a utilização da casca da uva como
matéria-prima na elaboração de vinhos, agregando a esses produtos um possível
caráter funcional (LIMA, 2008).
Os compostos fenólicos influenciam diretamente nas principais
características sensoriais dos vinhos como sabor, aparência, aroma,
adstringência e também nas propriedades antimicrobianas. Possui grande
potencial antioxidante, os quais atuam na prevenção de diversas doenças, como
alguns tipos de câncer, doenças cardiovasculares, diabetes, acidentes vasculares
cerebrais, entre outras (ARCHELA; DALL‟ANTONIA, 2013). Contudo, sabe-se
que a sua concentração e composição é influenciada por fatores como: condições
climáticas e de cultivo, bem como da cultivar de uva (ORDUÑA, 2010).
A caracterização dos vinhos produzidos no sudoeste de Minas Gerais
tem sido ainda pouco explorada, não havendo registros científicos sobre as
particularidades desses produtos, como a composição físico-química,
características sensoriais e potencial funcional. Sendo assim, surge a necessidade
da realização de novos estudos que façam essa abordagem, contribuindo assim
para a implantação da vitivinicultura dessa região como alternativa de
desenvolvimento e de fixação do homem no campo.
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2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Realizar a caracterização física e química, e a avaliação da atividade
antioxidante in vitro e sensorial in vivo de vinhos elaborados de uvas produzidas
no sudoeste de Minas Gerais, na Universidade Federal de Lavras, em
Lavras/Minas Gerais.
2.2 Objetivos específicos
1 Verificar a influência da cultivar de uva sobre as características física e
química dos vinhos.
2 Pesquisar a adequação dos vinhos produzidos em relação aos padrões de
qualidade e identidade estabelecidos pela legislação vigente.
3 Comparar a composição física e química dos vinhos elaborados com
diferentes cultivares de uvas, identificando a cultivar com melhor perfil de
compostos bioativos.
4 Identificar as amostras de vinho com melhor aceitação sensorial.
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3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 Uvas comuns ou de dupla aptidão (Vitis labrusca)
A uva é um fruto não climatérico, o que significa que para desenvolver
suas características de amadurecimento, como teor de açúcares, coloração,
diminuição de ácidos orgânicos e aromas, o fruto precisa estar ligado à planta, e,
caso seja colhido antes de atingir o estádio de maturação, considerado adequado,
ele não alcançará suas características desejáveis, tanto para o consumo quanto
para a o seu processamento.
Fatores climáticos como altas temperaturas e insolação exercem efeitos
positivos nas características da uva para o processo de vinificação, pois
proporcionam uma diminuição da acidez dos frutos e estimulam a atividade
fotossintética e consequentemente a elaboração dos açúcares no fruto. O teor de
açúcar contido na uva para vinificação é de relevante importância para que a
bebida alcance o teor alcoólico desejado (SILVA, 1998).
As uvas das espécies de Vitis labrusca são denominadas uvas rústicas ou
comuns. Essas videiras, de modo geral, apresentam elevada produtividade e alta
resistência às doenças que na maioria das vezes atacam as cultivares de Vitis
vinifera. Sabe-se que a cultivar da uva é um dos fatores que determinam sua
composição físico-química, o que influencia diretamente atributos sensoriais do
produto elaborado (GIOVANNINI, 2008).
A produção de vinhos de mesa e sucos de uva no país é embasada por
uvas americanas. A utilização dos produtos Vitis labrusca se deve ao fato de
fornecerem matéria-prima de qualidade para a elaboração de vinhos, uma vez
que não perdem as características sensoriais depois do processamento (MELLO,
2013; NATIVIDADE, 2014).
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3.2 Cultivares de uvas utilizadas para a microvinificação
Ainda não existem dados estatísticos publicados sobre a produção
comercial de vinhos elaborados com uvas produzidas na região de Lavras, Minas
Gerais. Assim, algumas cultivares foram selecionadas para embasarmos a
produção e multiplicação dessas videiras, para serem consideradas alternativas
de atividade socioeconômica de importância relevante em regiões de clima
subtropical.
3.2.1 Niágara Rosada
A uva Niágara Rosada é o resultado de uma mutação somática, ocorrida
na uva Niágara Branca da cultivar Vitis labrusca L. x Vitis vinifera L., no ano de
1933, na cidade de Louveira, estado de São Paulo, que rapidamente predominou
sobre a forma original. É uma videira que apresenta características próprias, como
sabor foxado e boa qualidade para o consumo in natura, sua polpa desprende-se
facilmente da película quando a baga é pressionada e é bastante apreciada pelo
consumidor brasileiro (CAMARGO, 1998; CATO et al., 2005; SOARES et al.,
2008). Apresenta rusticidade, sendo pouco exigente quanto aos aspectos
fitotécnicos, vigor médio, é muito produtiva e tolerante às pragas e doenças. Sua
produtividade é de 25 a 30 t/ha com teor de sólidos solúveis totais (SST) de 14 a
17 ºBrix, sendo destaques como uvas de mesa comuns (CABRAL, 2009;
DETONI et al., 2005).
Estudos feitos por Barnabé (2006) comprovam que o vinho da uva Niágara
Rosada apresentou baixa intensidade de gosto ácido, consequentemente
apresentando baixa intensidade de sabor seco.
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3.2.2 Bordô
A cultivar Bordô é originária dos Estados Unidos, sendo que a correta
denominação dessa cultivar é Ives ou Ives seedling, porém popularmente ela é
conhecida por nomes regionais, tais como: 'Bordô' no Rio Grande do Sul e Santa
Catarina; 'Folha de Figo' em Minas Gerais e 'Terci' no Paraná. (CAMARGOS;
DIAS, 1986). Essa cultivar é tinta, rústica e resistente a doenças fúngicas que
afetam esses frutos (como por exemplo míldio - Plasmopara viticola, ao oídio -
Uncinula necator, e à podridão cinzenta do cacho - Botrytis cinerea), contudo,
possui problemas em relação à adaptação em climas tropicais, adaptando-se
melhor em regiões com invernos bem definidos, como o caso do sul de Minas
Gerais, norte do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina (MAIA;
CAMARGO, 2005; MELLO, 2003a). A uva apresenta alta concentração de
antocianinas em sua película, originando produtos intensamente coloridos e que
podem ser utilizados para cortes de produtos de outras cultivares de menos cor.
Estudos feitos por Tecchio, Miele e Rizzon (2007) objetivaram
descrever as principais características sensoriais do vinho varietal Bordô
elaborado no Rio Grande do Sul e caracterizaram a bebida como sensorialmente
marcante.
3.2.3 Isabel Precoce
A uva Isabel Precoce, é uma mutação somática espontânea, identificada
e propagada por Armindo Pozza, estando entre as principais cultivares de Vitis
labrusca, originária do sul dos Estados Unidos, de onde foi difundida para outras
regiões do mundo, apresentando boa adaptação em regiões tropicais e
características fitotécnicas semelhantes às da cultivar Isabel. Contudo, possui um
período de maturação de ciclo curto, sendo possível a realização de duas
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colheitas/ano no período de estiagem dessas regiões o que proporciona um maior
número de safras anuais, bem como apresenta outras características favoráveis,
por exemplo: elevado vigor e fertilidade, alta capacidade produtiva, maturação
uniforme e características físico-químicas adequadas para a elaboração de
produtos derivados do seu processamento (CAMARGO, 2004; RITSCHEL;
CAMARGO, 2007; RIZZON; MIELE; MENEGUZZO, 2000).
A cultivar Isabel é a uva mais difundida no Rio Grande do Sul e
representa quase metade de toda uva processada nacionalmente. O produto
obtido por esses frutos não possui a coloração esperada pelo mercado
consumidor, sendo necessário realizar cortes desses produtos com o de uvas
tintureiras, como por exemplo, da cultivar Bordô (SOUSA, 1996).
Apesar disso, Camargo (2004) cita a cultivar Isabel Precoce como uma
alternativa para a vitivinicultura brasileira, voltada à elaboração de vinho de
mesa.
3.2.4 BRS Rúbea
A Vitis labrusca `BRS – Rúbea` é uma cultivar oriunda do cruzamento de
Niágara Rosada x Bordô, realizado em 1965, pelo pesquisador Moacyr Falcão
Dias, como uma nova alternativa de uva tintureira, que apresenta boas
características de aroma e sabor para ser utilizada em cortes, visando ao
aprimoramento da qualidade de vinhos de mesa tipo labrusca (CAMARGO;
DIAS, 1999).
Essa cultivar foi desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária - EMBRAPA Uva e Vinho, em cooperação com o Instituto de
Pesquisas Agronômicas – IPASGRO/ Estação Experimental de Caxias do Sul e de
indústrias vinícolas e de viticultores para a realização de experimentos de
validação, com maior produção em 1995 (CAMARGO; DIAS, 1999). É uma
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planta vigorosa, de fertilidade média com dois cachos por ramo, em média, e um
pouco mais tardia que a cultivar „Bordô‟, brotando duas semanas após e atingindo
o ponto de colheita uma semana depois dessa cultivar.
Camargo e Dias (1999) recomendam o uso dessa variedade de uva como
fonte de matéria-prima para a elaboração de sucos com pouca cor, apresentando
potencial para a mesma finalidade na melhoria de vinhos tintos de mesa do tipo
labrusca.
3.2.5 BRS Cora
Com a finalidade de aprimorar a qualidade e acirrar a competitividade ao
setor, desde 1985, a EMBRAPA Uva e Vinho tem desenvolvido um programa de
melhoramento genético aspirando à criação de novas cultivares de uvas que
reúnam as características de adaptação aos polos tradicionais e emergentes de
cultivo desse fruto, que apresentem elevada produtividade, elevado teor de
açúcares e intensa coloração, somado às características sensoriais de aroma e
sabor das tradicionais cultivares de Vitis labrusca.
Após o lançamento da „BRS Rúbea‟, indicada para a região Sul do país,
foi lançada, como uma alternativa com ampla área de adaptação, a cultivar BRS
Cora, a qual foi validada com resposta positiva no Rio Grande do Sul, no noroeste
de São Paulo, no Triângulo Mineiro e na região de Nova Mutum, MT, já na bacia
amazônica (CAMARGO; DIAS, 1999).
A cultivar „BRS Cora‟ é originada do cruzamento entre Muscat Belly A x
H. 65.9.14, realizado pela EMBRAPA Uva e Vinho, em Bento Gonçalves, RS no
ano de 1992.
No ano de 1999, foi enxertada em área de validação de uvas para suco, na
região de Campina Verde, no Triângulo Mineiro, onde foram obtidas colheitas em
2001, 2002 e 2003, constatando a produtividade e a qualidade dessa uva.
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A „BRS Cora‟ é uma cultivar extremamente fértil, normalmente com
mais de dois cachos/broto, em média, o que determina um alto potencial
produtivo, de ciclo médio, um pouco antecipado em relação à Isabel, por volta
de 130 e 157 dias, dependendo da época do ano, nas regiões tropicais onde
foram testadas. As bagas apresentam coloração preta-azulada, com película
espessa e resistente, e polpa firme (CAMARGO; MAIA, 2004).
Segundo estudos de Camargo e Maia (2004), origina suco de uva
intensamente colorido, indicado para melhorar a coloração de sucos com pouca
coloração. No caso de sucos de Isabel, obtiveram bom padrão em cortes contendo
85 a 90% de suco dessa cultivar e 10 a 15% de suco de BRS Cora.
3.2.6 Concord Clone 30
A uva da cultivar „Concord Clone 30‟, segundo estudos de Camargo,
Kunh e Czermainski (2000), foi resultado de um trabalho de seleção clonal
realizado pela EMBRAPA Uva e Vinho, que terminou com seu lançamento em
2000.
O clone 30 não apresentou diferenças em relação aos comportamentos
agronômicos e à qualidade da uva quando comparado à cultivar original, porém
apresentou ciclo antecipado em 15 dias. Posteriormente foram realizados testes
em escala semi-industrial que confirmaram esses resultados (CAMARGO;
MAIA; RITSCHEL, 2010).
A semelhança entre a cultivar Concord, e a „Concord Clone 30‟ é que
ambas apresentam alta rusticidade, vigor médio e alta produtividade. Em média
com teor de açúcares totais em torno de 13-16 °Brix e acidez total de cerca de 60
mEq/L (CAMARGO; MAIA; RITSCHEL, 2010).
Segundo o mesmo autor, é recomendada para cultivo na região da Serra
Gaúcha, onde pode produzir cerca de 30 t/ha, como alternativa para ampliação
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do período de produção e processamento de sucos. Atualmente, observa-se a
expansão do seu cultivo, tanto na Serra Gaúcha, quanto no oeste Catarinense.
3.3 Exigências climáticas da videira x clima da região sul de Minas Gerais
O clima é um importante fator relacionado à duração do ciclo, à
qualidade do produto, à produtividade e à fitossanidade da videira
(SENTELHAS, 1998). A qualidade dos frutos é, também, influenciada pela
radiação, irrigação e temperatura (SOUSA, 1996), sendo este último fator muito
importante para o crescimento da planta e acúmulo de açúcares nas bagas
(COOMBE; BOVIO; SCHNEIDER, 1987).
Em relação à radiação solar, as videiras necessitam de 1200 a 1400
horas de brilho solar. Essa condição é amplamente encontrada no Brasil, desde o
Rio Grande do Sul até Pernambuco. Já a temperatura ótima de desenvolvimento
está entre 15 e 30 ºC, sendo possível o plantio em temperaturas que variam entre
10 e 40 ºC (SENTELHAS, 1998). Dentro dessa faixa, quanto mais elevada for a
temperatura, mais acelerado é o desenvolvimento.
Foi observada para a região de Lavras-MG uma faixa de temperatura
máxima média variando entre 24 e 28 ºC no período de julho a dezembro de
2013. Já a taxa de precipitação apresentou variação entre os períodos de seca
(1,9mm) e chuvoso (180,0mm), com insolação variando entre 182,0 a 277,7
horas e nebulosidade entre 3,10 a 7,45 décimos. A unidade relativa observada na
região foi entre 61,12% e 78,95% (BANCO DE DADOS METEOROLÓGICOS
PARA ENSINO E PESQUISA – BDMEP; INSTITUTO NACIONAL DE
METEOROLOGIA - INMET, 2014).
Melhor desenvolvimento é observado em regiões de clima seco, com taxa
de precipitação variando de 250 a 600 mm anuais. No entanto, regiões com taxa
de precipitação anual de 1000 mm também têm desenvolvido a viticultura com
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sucesso (GIOVANNINI, 2008). Em 1940, Gobbato (apud WUTKE, 2004) relatou
que são necessários 94 mm de precipitação da brotação até o início da floração, 25
mm da floração até a fecundação, 135 mm da fecundação até o início do
amadurecimento e 130 mm do amadurecimento até a maturação. Sob as condições
de excesso de chuvas, ocorre diluição dos açúcares e elevação da acidez em uvas
(ABRAHÃO, 1984).
Tendo em vista as exigências climáticas das videiras, observam-se
condições favoráveis de alguns microclimas na região de Lavras, visando à
obtenção de bons vinhos de mesa, que possam suprir as exigências do padrão de
identidade e qualidade da bebida.
3.4 Definição e classificação
Segundo a portaria do Ministério da Agricultura Pecuária e
Abastecimento nº 229, de 25 de outubro de 1988, a definição de vinho é
exclusivamente para bebida resultante da fermentação alcoólica completa ou
parcial da uva fresca, ou do mosto simples ou virgem, esmagada ou não, por
intermédio de microrganismos chamados leveduras, as quais transformam o
açúcar presente no suco de uva em álcool etílico e uma série de outros elementos
em quantidades variadas e importantes para a caracterização da bebida, com um
conteúdo de álcool adquirido mínimo de 8,6 a 14% (v/v a 20ºC) (BRASIL,
1988).
Pode ser classificado por classe: vinho de mesa; vinho leve; vinho fino
ou VCP (vinho de qualidade preferencial); vinho espumante; vinho frisante;
vinho gaseificado; vinho licoroso e vinho composto; e ainda por tipo: tinto
(obtido de uvas tintas e vinificado na presença de cascas); rosado ou rose (obtido
de uvas rosadas, tintas ou misturas de brancas com rosadas e/ou tintas) e branco
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(normalmente, obtido de uvas brancas, mas podendo ser também obtido de uvas
tintas ou rosadas, fermentado na ausência de cascas) (BRASIL, 1988).
3.5 Processo de vinificação
A vinificação é a realização de operações em conjunto para transformar
o mosto de uvas em vinho (HASHIZUME, 2001). Pode ser realizada em branco
ou em tinto, sendo que cada processo apresenta suas particularidades.
Entretanto, algumas operações são comuns, como pode ser observado nos
fluxogramas representados na figura 1.
De acordo com Hashizume (2001), vinificação em tinto é quando a
fermentação alcoólica ocorre com a presença das cascas. A vinificação também
é caracterizada pela ocorrência da fermentação malolática, e pode ser empregada
na produção de vinho rosado. Já a vinificação em branco é quando o processo de
fermentação alcoólica ocorre na ausência das cascas, ou seja, sem a maceração.
Pode ser obtido vinho branco tanto a partir de uvas brancas como tintas, desde
que não se misture as películas com o mosto durante o processo de fermentação.
Já o processo de vinificação em branco se diferencia do tinto por apresentar
prensagem e trasfega antes da fermentação, obtendo-se o mosto incolor.
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Figura 1 Fluxograma das operações de vinificação em tinto (a) e em branco
(b)
Fonte: Fonseca (2008).
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3.5.1 Etapas do processo de vinificação
Vindima: segundo Hashizume (2001), a colheita da uva, quando é
destinada à vinificação denomina-se vindima, e a determinação do ponto de
colheita, bem como a sua duração, é o primeiro aspecto a ser considerado.
Para Peynaud (1992), a determinação do ponto de colheita é um fator
determinante para as características de qualidade do produto elaborado.
Recepção da Uva: nessa etapa do processo os cachos de uva são
classificados, pesados e encaminhados para o processo de desengace e
esmagamento.
Desengaçamento e esmagamento: inicialmente, ocorre o desengace das
uvas, sendo essa etapa o processo de separação das bagas do pedicelo. Em
seguida é feito o esmagamento das uvas, etapa a qual as bagas serão amassadas e
extraídas as polpas e o mosto.
Sulfitagem: segundo Rosier (1993), a etapa da sulfitagem tem como
objetivo selecionar as leveduras que promovem os melhores resultados na
fermentação do vinho, ou seja, aquelas que têm maior capacidade de produção
de álcool e aromas. O dióxido de enxofre adicionado no mostro apresenta,
também, função antioxidante, protegendo as substâncias corantes e aromáticas
do vinho contra as oxidações químicas e enzimáticas (PEYNAUD, 1984).
A quantidade recomendada depende da sanidade das uvas, e segundo
Rosier (1993) as quantidades podem variar de 10 a 20 gramas de
metabissulfito/100 quilos de uva. A Organização Mundial da Saúde (OMS)
recomenda a redução da dosagem do dióxido de enxofre nos alimentos e
principalmente nos mostos. Algumas medidas preventivas devem ser adotadas
para a diminuição dessas dosagens, como: utilizar uvas sãs na vinificação, evitar
o esmagamento das uvas no campo e longos tempos de esperas para se realizar a
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prensagem, entre outras medidas que se resumem em ter maior higiene durante o
processo.
Chaptalização: na etapa de chaptalização ocorre a adição de uma
determinada quantidade de açúcar no mosto, cujo objetivo é alcançar graduação
alcoólica desejada no vinho (RIZZON; DALL‟AGNOL, 2009).
Guerra et al. (2005), indicam que o mosto contenha pelo menos 12°GL
de álcool. Para tanto, deve conter aproximadamente 200 g.L-1
de açúcar, o que
significa que o rendimento de açúcar (presente na uva) em álcool é de 60%.
Logo, se a uva não tiver o teor necessário de açúcar, deve-se adicioná-lo.
De acordo com estudos feitos por Hashizume (2001), essa etapa deve
acontecer no início da fermentação e ser realizada em uma única vez na fase
tumultuosa. Além disso, é necessário utilizar açúcar refinado diluído em uma
parte de mosto, segundo Rizzon, Meneguzzo e Manfroi (2003).
Fermentação alcoólica: fundamenta-se na transformação do açúcar em
álcool etílico pela ação de leveduras, quando há liberação do dióxido de carbono
e energia. Outros subprodutos também se formam nessa reação, como glicerol,
acetaldeído, ácidos acético e láctico, etc. (AMERINE; BERG; CRUESS, 1967;
HASHIZUME, 1983).
Descuba: é o procedimento de separação do mosto em fermentação do
bagaço da uva, através da trasfega do vinho do fermentador para tonéis, barris de
madeira, entre outros, para que seja continuada a fermentação. Para o caso dos
vinhos tintos, essa etapa é feita após o líquido ter absorvido a coloração
desejada, os taninos e substâncias necessárias às características do vinho. O
momento exato de descuba é observado por características sensoriais (gosto e
visual), mas também se pode ter o controle através da medição da densidade do
líquido, a qual deve atingir entre 1040 e 1030 g/L (ROSIER, 1993).
Prensagem: após a descuba, procede-se o processo de prensagem do
bagaço da uva, o que possibilita um aumento no rendimento de 10 a 15%,
29
contudo, pode-se originar um produto de segunda categoria, uma vez que a
prensagem das partes sólidas libera vários compostos de modo não seletivo.
A fermentação alcoólica pode ser dividida em duas etapas: uma
tumultuosa e outra lenta. A fase tumultuosa ocorre no início da fermentação e
consiste na elevação da temperatura e desprendimento de gás carbônico, que
empurra as cascas para cima. De acordo com estudos de Rizzon, Miele e
Meneguzzo (2000), a fermentação tumultuosa é concluída ainda com uma
concentração de açúcares entre 15 e 25 g.L-1
, que será usado pelas leveduras na
fermentação lenta.
Fermentação malolática: essa reação consiste na transformação do ácido
málico em ácido lático, por bactérias do gênero Leuconostoc, Lactobacillus e
Pediococcus, naturalmente presentes em uvas maduras. A fermentação malolática é
favorecida pelo baixo pH e alto conteúdo de ácido málico.
Trasfega: nessa etapa o vinho é transferido de um recipiente para outro
com o objetivo de separar precipitações que ocorrem ao término da fermentação.
Essa precipitação é composta por cascas, sementes, leveduras, pectinas,
mucilagens entre outras substâncias, e na falta de açúcar essas leveduras
autodegradam, liberando para o meio, substâncias nitrogenadas com sabor
desagradável (ROSIER, 1993).
Filtração: é uma operação que consiste em passar o vinho através de um
meio filtrante, com o objetivo de reter substâncias em suspensão, depois da
clarificação e do tratamento pelo frio (OUGH, 1992). O resultado é um produto
mais claro e com as mesmas características gustativas.
Estabilizações: existem três maneiras para se realizar a estabilização do
vinho: estabilização química (uso de sorbato de potássio), estabilização pelo
calor e pelo frio. A estabilização química é empregada para evitar o crescimento
microbiano, especificamente leveduras e fungos. No caso da estabilização pelo
calor, o processo é realizado através da pasteurização. Além diminuir a carga
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microbiana do produto, a pasteurização destrói os cristais submicroscópicos da
bebida, permitindo que os vinhos jovens permaneçam por mais tempo sem a
formação de cristais, os quais prejudicam o aspecto visual da bebida
(PEYNAUD, 1984). Já a estabilização pelo frio, consiste em esfriar o vinho a
uma temperatura próxima à de congelamento (inferior a 0 °C) por um
determinado tempo (5 a 10 dias). Além de retardar o crescimento microbiano e
suas possíveis alterações no produto, a refrigeração melhora o sabor do produto
e a limpidez e estabilidade da cor dos vinhos (PEYNAUD, 1984).
Cortes: essa etapa é conduzida com o objetivo de suprir as possíveis
deficiências de alguns componentes no vinho, como: coloração, acidez, teor
alcoólico e resíduo de açúcar. Para tal é realizada a mistura de um ou mais
vinhos para a obtenção de um produto mais equilibrado e harmonioso.
Engarrafamento: esse procedimento é a última forma de conservação do
produto no seu processamento. Para proceder com o fechamento das garrafas,
usualmente se utiliza rolhas, essas têm a função de impedir o arejamento no
produto e a perda da qualidade do vinho. No caso de vinhos mais inferiores são
utilizadas garrafas e tampas de plástico. Essa etapa também é realizada sob
condições de assepsia.
3.6 Produção de vinho em diversas regiões brasileiras
A viticultura brasileira foi inserida pelo português Martim Afonso de
Sousa, em 1532, na capitania de São Vicente, hoje conhecido como estado de
São Paulo (CATALUÑA, 1991). Contudo, foi apenas em 1870-1875 que se
iniciou o processo de fabricação de vinho em território brasileiro, devido à
intensificação da colonização italiana na região Sul do país (AMARANTE,
1986). Inicialmente eram plantas videiras de espécies europeias (Vitis viníferas),
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posteriormente houve a introdução das espécies americanas devido à sua maior
facilidade em se adaptar ao clima e à resistência às doenças fúngicas.
Segundo o Comunicado Técnico 121 - Vitinivicultura Mundial: principais
países e posição do Brasil (MELLO, 2012), a figura 2, baseada em dados da
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura - FAO (2012),
apresenta a produção de vinhos dos principais países. O Brasil foi o 13° colocado
em produção de vinhos no mundo, tendo aumentado sua produção em 16,53% no
ano de 2010. Os principais produtores de vinhos em 2010, em ordem decrescente,
foram: Itália, França, Espanha e Estados Unidos.
Figura 2 Produção mundial de vinhos – principais países – 2010
Fonte: Mello (2012).
É importante ressaltar que não se dispõe de estatísticas sobre a produção e
comercialização nacional de vinhos de acordo com as regiões, mas o estado do
Rio Grande do Sul tem sido considerado o maior produtor nacional de uvas e
vinhos, destacando-se a Região da Serra Gaúcha, com as cidades de Bento
Gonçalves, Garibaldi, Caxias do Sul, Flores da Cunha, Farroupilhas e Canela
32
(MELLO, 2007; PROTAS; CAMARGO; MELLO, 2002). As uvas americanas
representam 90% do total produzido na Serra Gaúcha, o restante é de variedades
viníferas, destinadas apenas para a produção de vinho. Em Santa Catarina a
expressão econômica da vitivinicultura também é relevante, e o tipo de exploração
vinícola é muito semelhante ao da Serra Gaúcha. A região do Vale do São
Francisco (BA e PE) tem se destacado pelo seu potencial para produção de vinhos
de qualidade. Os estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná também possuem
regiões vitivinícolas que contribuem para a produção nacional, elaborando,
entretanto quase que exclusivamente vinhos de uvas americanas e/ou híbridas
(PROTAS; MELLO; CAMARGO, 2002).
De acordo com o Comunicado Técnico, 137, publicado por Mello (2013),
no ano de 2010, o Brasil, produziu 1.295.442 toneladas de uva, sendo que 43% do
total destinaram-se à elaboração de vinhos, sucos e outros produtos. Os estados
produtores são o Rio Grande do Sul, com 53% da produção, São Paulo, com
13,7%, Pernambuco, com 13%, Paraná, com 7,8%, Bahia, com 6%, Santa
Catarina, com 5,1% e Minas Gerais, com 1,4% da produção nacional.
O estado de Minas Gerais é uma região tradicional no cultivo de uvas de
origem americana (Vitis labrusca e Vitis bourquina), e , segundo o Comunicado
Técnico, 137, publicado por Mello (2013), possui uma área de produção
estabilizada em torno de 812 ha. As principais cultivares utilizadas são „Bordô‟,
„Jacquez‟, „Niágara Rosada‟ e „Niágara Branca‟. Em Minas Gerais, a latitude é
compensada pela altitude, onde se pratica uma viticultura de clima temperado,
com poda em julho e agosto e colheita em dezembro e janeiro. O perfil do
viticultor da região é de pequenos agricultores, agricultura familiar e tradicional.
Quanto à produção de vinho na região, 95% são vinhos de mesa, produzidos com
uvas cultivadas na própria região e parte com uvas adquiridas no Rio Grande do
Sul. No estado de Minas Gerais se destacam dois polos produtores, um ao sul
composto pelos municípios de Caldas, Andradas e Santa Rita de Caldas e outro ao
33
norte, no município de Pirapora, a qual tem a produção destinada a uvas de mesa
para consumo ao natural. Atualmente, existem, na tradicional região de Andradas
e Caldas, oito vinícolas em funcionamento, além de diversos vinicultores
artesanais. Além das cidades anteriormente citadas, existem outras cidades que
também possuem tradição na produção de vinhos, como Florestal e Bueno
Brandão, porém menos expressivas do que quando comparadas com Andradas e
Caldas (MELLO, 2013).
Pela descrição das características do sudeste de Minas Gerais observa-se
que esta região apresenta clima bastante diferente dos apresentados pelas
tradicionais regiões vinícola localizadas no Sul e Nordeste do país, com condições
edafoclimáticas tipicamente subtropical (LUCENA et al., 2010). Considerando a
influência marcante do clima sobre as características físico-químicas da uva, é
compreensível identificar que as bebidas produzidas em diferentes regiões
possuam características sensoriais e nutricionais bastante peculiares.
Um grande diferencial dessa região de Minas Gerais consiste no fato da
mesma possuir condições climáticas satisfatórias, que podem possibilitar uma
produção de um volume adequado de vinho. Assim, este estudo visou traçar um
perfil do potencial para a produção de vinho nesta região com vista a uma nova
alternativa de geração de renda para os produtores viticultores locais, já que o
processo de elaboração de vinhos jovens pode durar até 60 dias após o
recebimento da uva.
3.7 Constituintes químicos do vinho
No Brasil as uvas são subdivididas em duas espécies: uma de origem
europeia – Vitis vinífera – utilizada para a produção exclusiva de vinho, e outra de
origem americana – Vitis labrusca – utilizada para a produção de vinhos, sucos e
derivados. No Brasil 80% da produção de uva é da espécie Vitis labrusca, por
34
apresentar características de rusticidade ao clima e alta produção de mosto,
excelente para a produção de vinho (SAUTTER et al., 2005).
As substâncias principais que constituem o vinho são: açúcares, álcoois,
ácidos orgânicos, sais de ácidos minerais e orgânicos, compostos fenólicos,
pigmentos, substâncias nitrogenadas, pectinas, gomas e mucilagens, compostos
voláteis e aromáticos (ésteres, aldeídos e cetonas), vitaminas, sais e anidrido
sulfuroso (ALI et al., 2010; SOUZA et al., 2006).
O teor de açúcar da uva pode variar entre 15 e 30% em virtude de alguns
fatores como variedade da uva, estágio de maturação e clima. Os açúcares da
uva são quase constituídos exclusivamente de D-glicose e D-frutose em
proporções iguais no momento da plena maturação. A uva contém traços de
sacarose, os quais desaparecem durante a fermentação (GÓES, 2005).
O álcool etílico junto a água e o glicerol são os componentes mais
importantes do vinho. O álcool etílico e o glicerol em proporção de 5 a 10 g.L-
¹
são derivados da fermentação alcoólica (ALI et al., 2010).
Os principais ácidos orgânicos encontrados são D-tartárico, L-málico e
L-cítrico, provenientes da uva, e succínico, lático e acético, provenientes da
fermentação. Alguns outros ácidos também são encontrados, porém em
pequenas quantidades; a acidez fixa no vinho é formada por alguns aldeídos
como o tartárico, málico, láctico, succínico e cítrico. O ácido acético é o
principal componente para a acidez volátil do vinho (RIBÉREAU-GAYON et
al., 2006).
Os principais sais constituintes do vinho são os ânions minerais, sulfato,
fosfato, cloreto e sulfito, e, os orgânicos, tartarato, malato e lactato, além de
alguns cátions como o K+
, Na+
, Mg2+, Ca2+, Fe2+, Al2+ e Cu2+ (VOGT, 1986).
A quantidade de extrato seco determina o corpo do vinho. O vinho que
apresentar menos que 2% de extrato seco é considerado leve ou magro, sendo
35
comparado gustativamente com outros vinhos que apresentam extrato seco
acima de 3% (AQUARONE, 2001).
Os compostos fenólicos têm grande importância no vinho, pois
conferem a coloração e grande parte do sabor, além de proteger a uva contra
fungos, bactérias, vírus e radiação solar (DAS; SANTANI; DHALLA, 2007). Os
polifenóis são encontrados principalmente na casca, na semente, bem como na
polpa da uva (RIBEIRO; MANFROI, 2010) e apresentam propriedade de
coagular as proteínas do vinho, intervindo na clarificação por colagem. O gosto
de vinhos tintos e brancos é diferenciado pela presença de compostos fenólicos,
os quais apresentam ação benéfica à saúde principalmente em razão das
propriedades antioxidantes, bactericidas e vitamínicas, auxiliando, também, na
prevenção de doenças cardiovasculares (RIBÉREAU-GAYON et al., 2006).
O resveratrol representa o composto fenólico mais importante do vinho,
é encontrado na casca da uva e apresenta atividade bioquímica, agindo como
inibidor da agregação plaquetária e coagulação, bem como apresenta ação antiinflamatória, regula o metabolismo lipoproteico e atua como quimiopreventivo
(SAUTTER et al., 2005). É encontrado em grandes quantidades em uvas das
espécies Vitis vinífera e Vitis labrusca, e em vinhos tintos, sua concentração é
maior do que em vinhos brancos e rosados, já que o vinho tinto fica em contato
com as cascas por um tempo maior quando comparado aos vinhos branco e
rosado (PENNA; HECKTHEUER, 2004).
As substâncias nitrogenadas apresentam menor influência no gosto do
vinho, contudo são meios nutritivos indispensáveis às leveduras e bactérias.
Entre os compostos nitrogenados se destacam as proteínas, os polipeptídeos e os
aminoácidos. Os ésteres, quando presentes em quantidades elevadas no vinho,
fazem com que este fique com uma característica deteriorada ou acidificada; em
baixas concentrações são considerados constituintes favoráveis ao aroma
(AQUARONE, 2001).
36
O teor de aldeídos indica o grau de aeração ao qual o vinho foi
submetido. O branco, por exemplo, quando apresenta acima de 100 mg.L-1
indica que foi arejado ou oxidado; o vinho tinto apresenta concentração de
aldeídos menor que 50 mg.L-1
em virtude da presença de taninos e antocianinas,
que diminuem a oxidação do etanol e glicerol em aldeídos. Algumas vitaminas
encontradas no vinho são a tiamina, riboflavina, ácido pantotênico, pirodoxina,
entre outras (RIBÉREAU-GAYON et al., 2006).
O anidrido sulfuroso é um componente utilizado para a elaboração de um
vinho, o seu limite de uso é de acordo com a legislação de cada país. No Brasil é
permitido o uso de até 350 mg.L-1
como SO2 total. O conhecimento do pH é de
extrema importância, constituindo um importante dado para avaliar a resistência
contra infecção bacteriana, tendência a “casse férrica” ou porcentagem de SO2
presente na forma livre (AQUARONE, 2001).
3.8 Vinhos de mesa
Os vinhos de mesa podem apresentar diferenças quanto ao teor de
açúcares presentes na bebida (expressos em g.L
-
¹ de glicose) e serem
classificados como seco; meio seco ou demi-sec e suave ou doce. Assim, os
vinhos secos são aqueles que apresentam até 5 g.L
-
¹ de açúcar; os vinhos meio
seco ou demi-sec os possuem entre 5,1 e 20,0 g.L
-
¹ de açúcar e os vinhos suaves
ou doces apresentam acima de 20,1 g.L
-
¹ de glicose na bebida (BRASIL, 1998).
O vinho de mesa é um vinho jovem, ou seja, pode ser consumido logo
após o seu processamento, o que é vantajoso no aspecto econômico, visto que
todo capital investido tem um rápido retorno quando comparado com o
processamento de vinhos finos. É um produto que anteriormente era vendido a
granel (em barril), mas, atualmente, são encontrados em embalagens simples de
750 a 1500 mL. Hoje em dia esse tipo de bebida ocupa em média 40 % dos
37
espaços das gôndolas dos supermercados, destinados aos vinhos e espumantes
brasileiros, em função de sua aceitação e preços acessíveis, pois promovem uma
alta rotatividade dos volumes, em relação aos vinhos finos brasileiros e
importados. Os supermercados e minimercados são os principais locais de
compra desses produtos. É um produto que não possui concorrentes
internacionais, pois a matéria-prima utilizada para a sua produção é diferente
daquela utilizada em países tradicionalmente vitícolas. Existe um excedente de
produção de vinhos finos no Brasil, ao contrário do vinho de mesa, em que a
produção e o consumo são equilibrados (NACHTIGAL, 2008).
Os vinhos de mesa caracterizam-se sensorialmente por apresentar sabor
frutado, e, ao ser ingerido o vinho, remete ao consumidor o gosto da uva, já o
aroma foxado percebido nessa bebida deriva da presença de moléculas como o
antranilato de metila, presente em uvas americanas.
Grande parte do segmento do mercado aprecia essas qualidades em um
vinho, porém os consumidores que possuem uma sensibilidade sensorial mais
exigente e refinado os definem como vinhos de “baixa qualidade sensorial”
(MELLO, 2003b).
O mercado brasileiro é composto em sua maioria por uma população de
baixo poder aquisitivo, em que o preço do produto influencia diretamente na
decisão de compra. Por esse motivo, e pela maior dificuldade no manejo de
culturas de uvas viníferas no país, o setor de vinhos de mesa tem sido favorecido
e representa aproximadamente 80% do total produzidos no país (CORRÊA et
al., 2005).
3.9 Potencial funcional do vinho
O termo alimentos funcionais foi inicialmente utilizado no Japão na
década 1980, como o resultado de esforços para desenvolver alimentos que
38
possibilitassem a diminuição dos gastos com saúde pública (STRINGHETA et
al., 2007). Em 2005, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)
revisou as alegações de propriedades funcionais dos alimentos, de novos
alimentos/ingredientes, substâncias bioativas e probióticos, na qual os alimentos
podem ser classificados de dois modos: quanto à fonte, de origem vegetal ou
animal; ou quanto aos benefícios que oferecem, atuando em áreas do organismo,
como no sistema gastrointestinal; no sistema cardiovascular; no metabolismo de
substratos; no crescimento, no desenvolvimento e diferenciação celular; no
comportamento das funções fisiológicas e como antioxidantes (SOUZA;
SOUZA NETO; MAIA, 2003).
O vinho apresenta-se intimamente ligado à evolução da medicina,
desempenhando sempre um papel principal. Desde a antiguidade os primeiros
praticantes da arte da cura, na maioria das vezes curandeiros ou religiosos, já
empregavam o vinho como remédio. Papiros do Egito antigo e tábuas dos
antigos Sumérios (cerca de 2200 a.C.) já prescreviam receitas baseadas em
vinho, o que o torna a mais antiga prescrição médica documentada.
O grego, conhecido como o precursor da medicina sistematizada,
Hipócrates (cerca de 450 a.C.), recomendava o vinho como parte de uma
alimentação saudável, bem como medicamento, em que cada tipo de vinho teria
uma diferente função medicinal.
Galeno (século II d.C.), famoso médico da Roma antiga, utilizava o
vinho na cura das feridas dos gladiadores, na qual o vinho atuava como um
desinfetante.
Mas, foi na Universidade de Salermo (Itália), fundada no século XI, que
o vinho se destacou com importância sobre a dieta. Lá, correntes clássicas e
árabes se fundiram, fornecendo as bases da medicina europeia. O “Regime de
Salermo” especificava “diferentes tipos de vinho para diferentes constituições e
humores”.
39
Em 1865-1866, Louis Pasteur, cientista francês, empregou o vinho em
diversos experimentos, em que pode concluir que o vinho é “a mais higiênica e
saudável das bebidas”.
A partir do final do século XIX, a visão do vinho como medicamento
começou a mudar, quando o consumo de álcool foi fortemente atacado por
campanhas de saúde pública exaltando as complicações de seu uso em excesso,
nas décadas de 70 e 80. Entretanto, várias pesquisas científicas bem conduzidas
têm demonstrado que, se consumido com moderação, o vinho traz vários
benefícios à saúde (NEWS MED, 2013).
Advindo de muitas discussões sobre o consumo moderado de vinho e a
inibição da incidência de doenças cardiovasculares (MAMEDE; PASTORE,
2004), estudos mostram que a ingestão de vinho favorece o funcionamento do
cérebro, beneficia os aparelhos digestivo e respiratório, estimula a produção de
insulina, atua como agente anti-infeccioso e imunoestimulante, diminui os riscos
de câncer e ainda retarda o envelhecimento, sendo considerado benéfico ao
organismo. Nesse contexto cientificamente é possível associar o consumo do
vinho com a promoção à saúde, quando associados a uma alimentação saudável
e qualidade de vida, contudo, somente se for consumido em quantidade
moderada (COMACHIO; TOLEDO, 2013).
Até o presente momento são poucas as explicações científicas acerca das
quantidades preconizadas para quantificar o que seria o consumo
moderado/ideal do vinho (CORDER, 2008).
Os Projetos, Diretriz da Associação Médica Brasileira, Conselho Federal
de Medicina e II Consenso Brasileiro, preconizam a ingestão de 240 ml de vinho
tinto para o tratamento da hipertensão arterial, quando ingeridos diariamente,
bem como favorecendo a redução da resistência à insulina e prevenindo doenças
cardiovasculares. De acordo com Prado et al. (2013), o Departamento de
Agricultura dos Estados Unidos (USDA) recomenda para os mesmos benefícios
40
a ingestão diária de 140 ml de vinho, já a American Heart Association (AHA),
preconiza ingestão de 90 – 120 ml de vinho por dia. Segundo estudos de
Comachio e Toledo (2013) pode-se perceber nos exemplos que os benefícios
descritos são os mesmos, porém em diferentes quantidades.
3.10 Compostos fenólicos
Os compostos fenólicos são metabólitos secundários de plantas, que
incluem uma grande diversidade de estruturas, que diferenciam entre si, em termos
de estrutura química, complexidade e reatividade (SHAHIDI; NACZK, 1995).
Esses compostos cíclicos são derivados de benzeno e possuem ao menos um anel
aromático no qual pelo menos um hidrogênio é substituído por um grupamento
hidroxila (KONDRASHOV et al., 2009; SHAHIDI; NACZK, 1995; SIMÕES,
2000; SOARES et al., 2008; STOCLET et al., 2004; URSINI et al., 1999).
Apresentam-se como componentes dietéticos não essenciais, sendo um
dos maiores grupos, e contribuem para o sabor, odor e coloração de diversas
espécies vegetais, muitos desses economicamente importantes pela utilização
como flavorizantes e corantes de alimentos e bebidas (MOREIRA; MANCINI
FILHO, 2004; SIMÕES, 2000).
A quantidade e a composição dos compostos fenólicos nas uvas podem variar
de acordo com diferentes fatores, a saber: espécie da videira, variedade da uva,
maturidade das bagas, condições climáticas, práticas de viticultura, região de cultivo,
contato com insetos e microrganismos, exposição à luz ultravioleta e utilização de
fertilizantes e pesticidas (ASAMI et al., 2003; SIRIWOHARN et al., 2004).
Os fenólicos são essenciais para o crescimento e reprodução das plantas,
bem como contribuem para o aumento da resistência do vegetal diante de
situações de estresse, atuando como agentes protetores da ação de predadores e
patógenos (apresentam atividade antimicrobiana), de reações oxidativas e da ação
41
da luz ultravioleta (UV). Participam também do processo de lignificação da parede
celular de plantas, processo este que evita o crescimento e a proliferação de
microrganismos que promovem injúria no vegetal (DILLARD; GERMAN, 2000;
SHAHIDI; NACZK, 1995). Sendo assim, a produção de altos níveis de fenóis na
planta está relacionada a situações de estresse (SHAHIDI; NACZK, 1995) e ao
processo de cicatrização (SILVA; SILVA, 1999).
Os compostos fenólicos estão amplamente distribuídos no reino vegetal e
na maioria dos microrganismos, uma vez que esses são capazes de sintetizar o anel
benzênico. A maior parte dos compostos fenólicos não é encontrada no estado
livre na natureza, mas sob a forma de ésteres ou de heterosídeos, sendo, portanto,
solúveis em água e em solventes orgânicos polares (SIMÕES, 2000).
As propriedades sensoriais dos alimentos como cor, sabor amargo e
adstringente estão intimamente relacionadas à composição inicial de compostos
fenólicos, bem como de fatores ambientais, por exemplo, temperatura, luz e pH. A
elevada capacidade desses compostos de interagir com diversas substâncias pode
gerar alteração da composição inicial dos alimentos. Sendo assim, grande parte
das alterações sensoriais ocorridas nos alimentos durante as etapas de
processamento e armazenamento, podem ser atribuídas à significativa reatividade
dos compostos fenólicos (ES-SAFI; CHEYNIER; MOUTOUNET, 2003).
Por serem compostos aromáticos, os compostos fenólicos apresentam
intensa absorção na região do UV. Além disso, esses são facilmente oxidáveis,
tanto pela ação de enzimas vegetais específicas quanto por influência de metais, da
luz e do calor, ou em meio alcalino, ocasionando em escurecimento de soluções
ou dos compostos isolados (SIMÕES, 2000).
A sua biossíntese pode ocorrer por meio de diferentes vias metabólicas,
como a rota do ácido chiquímico e a rota do ácido malônico, sendo a última de
maior relevância no metabolismo de microrganismos e pouca significância no
metabolismo de vegetais.
42
A rota do ácido chiquímico converte intermediários da glicólise e da via
das pentoses fosfato em aminoácidos aromáticos, via a qual é regulada pela
enzima fenilalanina amônia-liase. Os compostos fenólicos sintetizados podem
estar na forma livre ou ligados a açúcares e proteínas, podendo ser moléculas
simples ou compostos com elevado grau de polimerização (ÂNGELO; JORGE,
2007; TAIZ; ZEIGER, 2004).
Os inúmeros fatores que condicionam a síntese de compostos fenólicos,
bem como as diferentes vias pelas quais acontece a síntese, justificam a
heterogeneidade química desse grupo. Dessa forma, estudos feitos por Abe et al.
(2007), relatam que os compostos fenólicos são normalmente divididos em dois
grupos: flavonoides e não flavonoides, conforme demonstrado na Figura 3.
Figura 3 Representação esquemática dos principais compostos fenólicos
presentes no suco de uva
Fonte: Natividade (2014).
43
3.11 Flavonoides
A estrutura química dos flavonoides é representada como C6-C3-C6
(Figura 4), possuindo dois anéis aromáticos, denominados anel A e B, derivados
do ciclo acetato/malonato, ligados por três carbonos que formam um anel
heterocíclico, denominado anel C (ROSS; KASUM, 2002; WOLFE; LIU, 2008).
Figura 3 Estrutura química básica dos flavonoides
Fonte: Makris, Kallithraka e Kefalas (2006).
Pesquisas têm sido realizadas no intuito de focar primariamente a cor das
uvas, como: o tipo de solo, estado nutricional, desfoliação e fatores de
crescimento, visto que esses fatores influenciam a biossíntese de flavonoides em
plantas (CABRAL, 2009). De acordo com Crippen e Morrison (1986) e Smart,
Smith e Winchester (1988), o efeito da luz na biossíntese de flavonoides em
videira, utilizando tratamentos físicos para causar sombreamento, tem apresentado
influência devido às diferentes taxas de níveis de exposição do fruto, bem como de
exposição da folha com concomitante impacto na fotossíntese, no qual, em
condições de sombreamento, o conteúdo de flavonoides nas uvas decresce
significantemente. Os flavonoides majoritários nas uvas estão inseridos em três
classes: flavonóis, flavanóis e antocianinas (ABE et al., 2007).
Os constituintes mais relevantes da classe dos flavonóis, presentes na
película da uva, sob forma de glicosídios ou glucurônidos na posição 3, são:
44
caempferol, quercetina, e miricetina, cujas estruturas químicas estão representadas
na Figura 5 (ABE et al., 2007). Observa-se, geralmente, em uvas da variedade
Vitis vinífera a predominância do caempferol e nas Vitis labrusca, a de quercetina
(JACKSON, 1994; NATIVIDADE, 2014; RIBÉREAU-GAYON, 1998).
Figura 4 Estrutura química dos flavonóis: (a) caempferol, (b) quercetina e (c)
miricetina
Fonte: Makris, Kallithraka e Kefalas (2006).
Esses compostos, além de estarem envolvidos na determinação da coloração
de derivados da uva, têm sido amplamente estudados em função de sua atividade
antioxidante, a qual confere um efeito protetor às diversas desordens patológicas
(IACOPINI et al., 2008; NIJVELDT et al., 2001), bem como apresentam ações antiinflamatória, antiviral, anticarcinogênica, antiplaquetária, hipocolesterolêmica, além
de efeitos antialergênicos (DEGÁSPARI; WASZCZYNSKYJ, 2004; SHI; MAZZA;
LEMAGUER, 2002; SILVA et al., 2002).
Os flavonóis predominantes no vinho estão na forma de agliconas, que
na maioria das vezes, muitos fenólicos glicosilados sofrem hidrólise ácida no
processo de vinificação e envelhecimento. Já no suco de uvas, os principais
compostos encontrados são a catequina e a epicatequina, da classe dos flavanóis,
(Figura 6), também denominados flavan-3-óis, que estão presentes nas sementes
do fruto e exercem influência sobre o sabor e adstringência (ABE et al., 2007;
CASTILLO-MUÑOZ et al., 2009; NATIVIDADE, 2014).
45
Figura 5 Estrutura química dos flavanóis: a (+) catequina e b (-) epicatequina
a b
Fonte: Vitrac et al. (2002).
Em estudos com sucos de uva, os flavanóis foram observados na forma
monomérica de (+) catequinas e (-) epicatequinas (Figura 6), que se encontram no
grupo dos polifenóis melhor absorvidos pelo organismo. Já, estudos in vivo, têm
demonstrado a capacidade antioxidante desses flavanóis e sua relação positiva entre
o consumo dessas substâncias com a redução de doenças crônicas (GOLLÜCKE;
SOUZA; TAVARES, 2008, MANACH et al., 2005; NATIVIDADE, 2014).
Dentre à classe dos flavonoides, as antocianinas são importantes pigmentos
vegetais, pertencentes à categoria de metabólitos secundários, cuja função mais
importante é conferir coloração em flores e frutos, com tonalidades variando entre
alaranjadas, azuladas e avermelhadas. (DOWNHAM; COLLINS, 2000;
MUÑOZESPADA et al., 2004). Dessa forma, desempenham importante papel na
polinização e dispersão de sementes.
Segundo estudos de Castañeda-Ovando et al. (2009), a estrutura básica das
antocianidinas consiste em um anel aromático (A) ligado a um anel heterocíclico
(C), que por sua vez está associado a um segundo anel aromático (B) (Figura 7).
46
Figura 6 Estrutura química básica das antocianinas
Fonte: Adaptado de Castañeda-Ovando et al. (2009) e Wang e Stoner (2008).
A associação da estrutura de anéis descrita anteriormente com
glicosídeos origina as antocianinas, sendo que os carbonos 3 e 5 são os
principais sítios de ligação.
Na literatura foram descritas mais de 500 antocianinas e 23
antocianidinas, das quais estão presentes em uvas: a cianidina, a delfinidina, a
malvinidina, a petunidina e a peonidina (CASTAÑEDA-OVANDO et al., 2009;
MULLEN; MARKS; CROZIER, 2007; WANG; STONER, 2008).
Além de apresentarem importância na coloração das uvas, as
antocianinas possuem efeito antioxidante e consequentemente protetor contra os
radicais livres formados a partir de reações no organismo como parte do seu
metabolismo normal (MANACH et al., 2005; MUÑOZ-ESPADA et al., 2004;
WITZTUM; STEINBERG, 2001). Estudos realizados têm demonstrado os
efeitos positivos na saúde, atuando na prevenção de várias doenças (KISKOSKI
et al., 2004; MARTINEZ-FLORES et al., 2002; QUIN et al., 2009) e Wang e
Stoner (2008), associaram o consumo desses compostos com a redução do risco
de doenças cardiovasculares e neurológicas, diabetes e também foram
significativas no tratamento e prevenção de câncer.
47
3.11.1 Não flavonoides
Na classe dos fenólicos não flavonoides, incluem-se os ácidos fenólicos,
representados pelos ácidos hidroxibenzoicos e ácidos hidroxicinâmicos, que são
os componentes mais encontrados em uvas, na qual são precursores de
compostos voláteis, podendo estar envolvidos em reações de escurecimento,
possuindo também atividade antimicrobiana e antioxidante (FERRANDINO;
GUIDONI, 2010). Em produtos derivados de uvas brancas, estudos de Abe et al.
(2007), relataram que esses compostos são um dos principais determinantes do
aroma e do sabor.
Os estilbenos, inseridos em outra classe de compostos fenólicos não
flavonoides, são definidos como fitoalexinas de baixo peso molecular e
sintetizados pela videira como resposta às condições de estresse fisiológico,
como infecção microbiana, dano mecânico e radiação ultravioleta (CARERI et
al., 2003; NATIVIDADE, 2014).
O componente mais estudado se tratando de uvas é o resveratrol,
pertencente à classe dos estilbenos, devido aos efeitos farmacológicos que ele
apresenta, como por exemplo, atividade anticarcinogênica, cardioprotetora e
antioxidante. Sua síntese é influenciada por diversos fatores, sendo que elevados
níveis de radiação ultravioleta são capazes de favorecer aumentos significativos
(GÜRBUZ et al., 2007; NATIVIDADE, 2014).
Já os taninos pertencem ao grupo dos fenólicos não flavonoides de peso
molecular mais elevado, além de serem constituídos pela união de moléculas de
ácido gálico, ácido elágico glicosilado ou proantocianidinas, conferem uma
sensação de adstringência em alimentos, bem como podem estar envolvidos em
alguns efeitos funcionais (MONTEIRO et al., 2005, NATIVIDADE, 2014).
Considerando que a síntese de compostos fenólicos em uvas é
controlada, entre outros fatores, por condições genéticas, sabe-se que cada
48
cultivar de uva apresenta uma composição fenólica própria. Assim, a avaliação
do perfil fenólico pode ser utilizada como uma ferramenta de verificação de
autenticidade de um produto à base de uva, além de permitir a identificação
varietal do mesmo (CASTILLO-MUÑOZ et al., 2009). A composição e
a concentração de compostos fenólicos são afetadas pela região em que as uvas
são cultivadas, como também podem sofrer influência de fatores genéticos
(SIRIWOHARN et al., 2004). Nesse sentido, o manejo da disponibilidade de
água é determinante, visto que em situações de estresse hídrico controladas
podem favorecer a síntese de polifenóis. Além disso, níveis de insolação maiores
(UV radiação), estimulam o metabolismo vegetal a sintetizarem compostos
fenólicos (CASTILLO-MUÑOZ et al., 2009; LUCENA et al., 2010; MAKRIS;
KALLITHRAKA; KEFALAS, 2006; MULLERO; PARDO; ZAFRILLA, 2010;
NATIVIDADE, 2014).
3.12 Substâncias antioxidantes
Para serem consideradas antioxidantes, as substâncias devem realizar
pelo menos uma das seguintes reações: suprimir a reação de radicais livres,
eliminar ou desativar espécies reativas de oxigênio com formação de um
composto estável ou atuar em mecanismos de reparo dos danos oxidativos
(SOUZA, 2008).
Para uma maior longevidade, os antioxidantes atuam retardando a
velocidade da oxidação, e com isso, inibindo os radicais livres e assim,
prevenindo a formação de doenças. Vale ressaltar que o equilíbrio entre os
radicais livres e o sistema de defesa antioxidante é primordial, uma vez que o
excesso de radicais livres a redução dos agentes oxidantes causam efeitos
prejudiciais à saúde (FERREIRA; MATSUBARA, 1997).
49
Existem duas formas de defesa do organismo contra os danos
provocados pelos radicais livres. Uma delas é a utilização de um sistema
enzimático, cujas concentrações são controladas por fatores genéticos que
afetam os genes, como as enzimas superóxido dismutase, glutationa e catalase.
Esse sistema é o primeiro a agir, evitando o acúmulo de ânion radical superóxido
e do peróxido de hidrogênio, mas torna-se insuficiente quando as reservas de
antioxidantes estão baixas e a quantidade de radicais livres em excesso. A outra
é a utilização de compostos antioxidantes não enzimáticos, provenientes de
alimentos como, por exemplo, legumes, verduras e frutas (FERREIRA;
MATSUBARA, 1997).
As uvas, por sua vez, possuem efeito protetor, pela presença dos
polifenóis nos frutos in natura e em seus produtos derivados, como sucos e
vinhos, podendo ser considerada uma boa alternativa como fonte de polifenóis
totais e um alimento de moderado potencial antioxidante (VARGAS;
HOELZEL; ROSA, 2008).
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Além do consumo de vinhos estar relacionado a uma série de efeitos
fisiológicos e/ou metabólicos benéficos à saúde, o consumo dos vinhos produzidos de
cultivares Vitis labrusca vem crescendo ao longo dos anos devido aos preços
competitivos, quando comparados aos vinhos produzidos de uvas Vitis Viníferas. Do
ponto de vista econômico, o vinho de mesa, ou vinho de uvas americanas, exerce
papel fundamental no setor vinícola nacional como fonte de renda para pequenos,
médios e grandes produtores (GASPARIN, 2005).
O estado de Minas Gerais é uma região tradicional no cultivo de uvas de
origem americana (Vitis labrusca e Vitis bourquina), possuindo uma área de produção
estabilizada em torno de 812 ha.
As condições climáticas do sul de Minas Gerais configuram essa região como
subtropical. Esse fator certamente influencia a composição físico-química das uvas
cultivadas e proporciona a elaboração de produtos derivados da uva com
características sensoriais e funcionais únicas. Entretanto, ainda são necessários novos
estudos que abordem a determinação da composição físico-química, sensorial e
funcional dos produtos dessa localização.
Sendo assim, a realização de pesquisas científicas com foco nos vinhos
produzidos com uvas cultivadas na Universidade Federal de Lavras, bem como em
outras regiões do sudoeste de Minas Gerais, são especialmente importantes, uma vez
que contribuem para a determinação das características dessa bebida e ainda fornecem
subsídios para consolidar não somente sua comercialização no país, como também na
introdução desse produto no mercado internacional.
Além disso, com estudos mais elaborados, será possível a realização de
comparações dos vinhos produzidos nessa região com vinhos produzidos em regiões
vitivinícolas tradicionais do Brasil, a fim de analisar a competitividade e a aceitação
desses vinhos no mercado interno e externo.
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